Ordem
e progresso, palavras presentes na bandeira brasileira que remetem a corrente
positivista. Nessa linha sociológica a moral mostra-se como um mecanismo de
permanência da ordem social, uma vez que ela influencia o comportamento da
sociedade, e a ciência mostra-se sistemática. Porém, existe o positivismo na sociedade
brasileira?
Iniciemos
com a análise da frase: “filho de pobre não escolhe profissão”. Esse é um
pensamento já intrínseco na população pobre brasileira, subalterna na lógica
positivista, na qual as pessoas pertencentes a essa classe econômica são
ensinadas buscarem trabalho para garantir sua sobrevivência e não para
satisfazer ou realizar um sonho. Com isso, o discurso meritocrático vem para
justificar aqueles que ascendem na sociedade, assim, aqueles que não
prosperaram são levados a acreditar que a culpa é do indivíduo, retirando a
culpa do Estado e evitando a desordem social. Nesse sentido, na visão positiva,
as desigualdades sociais fariam parte da origem natural das coisas, constante e
explicada pelo determinismo biológico, no qual esclareceria o porquê um
indivíduo ser mais capaz que o outro.
Examinemos,
agora, a campanha presidencial do atual presidente Jair Bolsonaro: Brasil acima
de todos e Deus acima de tudo. Sabe-se que na sociedade neoliberalista em que
vivemos a economia e o trabalho andam juntas, sendo a primeira privilegiada pelo
governo e a segunda negligenciada. Dessa forma, percebe-se, nos dias atuais, que
com Brasil ele refere-se a economia, presente em seus discursos com promessas
de ascensão, e não a população. Logo, na visão positiva, no contexto da
pandemia do vírus covid-19, defender a não parada da economia, mesmo que vidas
sejam perdidas, é um ‘sacrifício’ valido, pois é Deus que está no controle e,
se caso, contraia o vírus e venha a falecer é porque Deus quis assim ou estava
fraco de fé. Esse é o pensamento de muitos, os quais se apegam a religiosidade
para justificar e, em muitas vezas, não enfrentar a realidade dura e cruel.
Além disso, ditados populares como: “Deus ajuda quem cedo madruga” e “o trabalho
dignifica o homem”, são exemplos de frases moralizantes que usam do divino e
dos dogmas da igreja para incentivar o trabalho. Vê-se, portanto, que na lógica
positiva a religião é uma instituição reguladora da moral, e se a moral é
controlada é possível manipular massas e, desse modo, manter a ordem social.
Do
positivismo é possível interpretar que o indivíduo deve conhecer apenas a o
útil para a sociedade. Dessa maneira, a ciência não se aprofunda, não busca a raiz
do problema. Ainda sobre a realidade do vírus covid-19, há discursos em que
dizem que só morrerá o mais fraco ao vírus, e que isso é apenas a seleção
natural agindo, pois, de acordo com a teoria evolucionista, na luta pela sobrevivência
o mais apto sobreviverá. É possível notar que aspectos como o acesso desigual
aos recursos e que a população majoritariamente atingida é pobre, são
desconsiderados nesse argumento. Na visão positiva, algumas mortes são toleráveis,
desde que para o bem maior da sociedade e da ordem.
À
vista disso, averígua-se que a lógica positivista está presente na sociedade
brasileira. Não de forma integral, mas encontra-se em pensamentos, na política
e em argumentos. Nessa coerência, vem a sociologia para ajudarmos a conhecer a
sociedade e os indivíduos que há nela.
Gabriela Cardoso dos Santos - Diurno
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