A filosofia positivista tem como um de
seus princípios a ideia da coletividade frente a individualidade a fim de que
haja o equilíbrio necessário para o estabelecimento de uma ordem coesa dentro
da sociedade e, dessa forma, essa sociedade caminhe rumo a um progresso. Esse
princípio da supremacia do coletivo frente ao individual acaba por gerar uma
sociedade que dispensa a complexidade no entendimento das mais diversas
questões, sobretudo nas sociais relacionadas as minorias e culturas diferentes,
considerando-as como disfuncionais e, assim, uma problemática para que se
estabeleça a ordem necessária almejada para o progresso da sociedade.
Dessa
forma, de maneira paradoxal, ao negar a complexidade para o entendimento do
mundo a sua volta, a ciência social positivista acaba também por se distanciar
do compromisso com a verdade, tornando-se assim uma ciência rasa que acaba por
compreender o mundo apenas por um prisma superficial, se deixando guiar pelo
senso comum, por preconceitos, pré-noções e estereótipos. Isso faz com que essa
ciência deixe de contemplar as múltiplas realidades existentes e até mesmo a
complexidade histórica, sociológica e filosófica que envolve qualquer questão
social que seja, não sendo assim a ciência ideal para ser seguida caso se
queira entender o mundo tal como ele realmente é.
É justamente nesse sentido que o
capítulo “Mentiras Gays” do livro “O Imbecil Coletivo” de Olavo de Carvalho se
insere. Ao longo de todo o capítulo, o autor se utiliza da perspectiva da
reprodução humana para criar o seu ponto de vista acerca da homossexualidade.
Sem nenhuma referência bibliográfica ou estudo científico que comprove qualquer
um de seus argumentos, Olavo tenta construir sua argumentação em exemplos dos
mais irreais possíveis, dignos de terem saído da sua cabeça, apenas para
esconder a sua verdadeira motivação em escrever este capítulo, o seu ódio e
preconceito contra o que segundo ele seria desviante do considerado “correto”
e, logo, provoca uma desordem na sociedade.
Como
se já não bastasse o extremo preconceito e conservadorismo quando Olavo propõe
haver uma orientação sexual correta e outra errada, ele ainda sugere que todos
os direitos dos homossexuais já estariam sendo efetivados pelo simples fato de
estarem positivados nas normas da Constituição e na Declaração Universal de
Direitos Humanos da ONU que não haverá discriminação de quaisquer gênero contra
qualquer ser humano, o que é claramente uma inverdade. Apesar dos direitos
individuais desse grupo social realmente estarem previstos nesses documentos, a
prática sempre é diferente da teoria, pois é muito mais difícil mudar a
mentalidade de toda uma sociedade do que é redigir uma lei num pedaço de papel.
Isso pode ser comprovado inclusive pelo próprio pensamento de Olavo que considera a homossexualidade uma opção sexual e
desumaniza os gays, argumentando que eles são movidos apenas pelos desejos sexuais. Logo, é evidente
o extremo preconceito e incompreensão de Olavo de Carvalho para com essa
orientação sexual, assim como também de grande parte da sociedade brasileira.
Percebe-se, portanto, o quanto os
valores de ordem e progresso, bem como a ciência social positivista, em buscar
soluções imediatas (desconsiderando a complexidade), ainda se faz muito
presente na contemporaneidade. Estejam eles presentes na construção de
discursos conservadores e preconceituosos a tudo aquilo que, nas palavras de
indivíduos conservadores, gera a desordem social e, consequentemente, impede o
progresso; estejam eles presentes quando se nega evidências comprovadas
cientificamente, como por exemplo a de que a hidroxicloroquina não funciona
como um tratamento para a covid-19.
André Luiz Gonçalves
Primo – 1º Ano – Direito Matutino
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