As correntes ainda persistem
No corpo feminino,
Na boca feminina,
No “ser” feminino.
A maternidade é puro romance.
Mãe, filho, quarto azul ou cor-de-rosa.
Mas a mãe jovem, a mãe periférica
Não está nos comerciais de margarina.
Está nos becos, nas ruas
Na casa da família tradicional brasileira
de vassoura e uniforme.
Está no desconhecido.
E na falta de acessos aos métodos
CONTRACEPTIVOS.
Está em uma vida de abusos.
Uma vida à margem.
A vulnerabilidade social.
A menina ficou grávida.
O garoto correu.
“esse filho não é meu”
Da mãe a obrigação de parir.
A obrigação de cuidar.
“Alguns reais” da pensão para criar um “ser”.
Abortar? Jamais.
É uma vida inocente.
“Mãe, sua inconsequente! ”
Depois, quem pariu que embale.
Quem trepou que engula.
Ainda que a criança tenha pouco pra engolir.
A moral e a questão.
Aborto e prisão.
Justiça, juízes, ação.
Aborto de um ser sem cérebro.
O falido nascimento.
O natimorto que sai do corpo e faz sofrer.
A cara de um filho, o berço do filho.
“ arrumar o quarto do filho que já morreu”
Um pedaço de ti, metade afastada de ti.
Leva teus sinais.
Vitais.
Um direito além das classes.
Um direito além da norma.
“A mão formal e instituída
do Estado
absorve e transforma a realidade”
Um direito híbrido.
Tatuagem no punho do Estado:
Universalidade + Impessoalidade + Neutralidade.
Um avanço, uma decisão.
A norma diz: crime.
A decisão diz: dignidade.
Mas até quando os corpos que não são nossos,
pela moral que não é de todo mundo,
Não deve ser de todo mundo,
Serão limitados?
Marcados pela imposição do “sair”
Marcados pela imposição do cuidar.
Acima de tudo. Acima de todos.
As manchetes apontam a incoerente tese:
“Pela vida”
“Pela pena de morte, redução da maioridade penal”
REVOLUÇÂO
Afinal,
Nem só de Reformismo viverá homem (e a mulher).
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