Este é um espaço para as discussões da disciplina de Sociologia Geral e Jurídica do curso de Direito da UNESP/Franca. É um espaço dedicado à iniciação à "ciência da sociedade". Os textos e visões de mundo aqui presentes não representam a opinião do professor da disciplina e coordenador do blog. Refletem, com efeito, a diversidade de opiniões que devem caracterizar o "fazer científico" e a Universidade. (Coordenação: Prof. Dr. Agnaldo de Sousa Barbosa)
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domingo, 28 de agosto de 2011
Os limites da razão dentro das paixões
Tema: A razão das paixões
Os termos “razão” e “paixão” são, à primeira vista, contraditórios. Isto porque a razão é vinculada a uma faculdade mental de distinção entre o “verdadeiro” e o “falso”, de entendimento objetivo, enfim, de raciocínio. Já a palavra “paixão” refere-se ao aspecto emocional, ao sentimento forte propriamente dito. Dessa forma, é visível o caráter antinômico de tais conceitos.
No entanto, trazendo esse dilema ao pensamento social, pode-se inferir que, em alguns sentidos, as paixões são dotadas de certa razão, ou ao menos corroboradas pelo raciocínio com vistas à objetividade.
As sanções praticadas ao assassinato, por exemplo, são frutos de um ideário razoavelmente lógico, porquanto visam à preservação da convivência coletiva. Ao mesmo tempo, o levante popular diante do assassino é imbuído de paixões avassaladoras com intuito punitivo, muitas vezes causando até linchamento. Obviamente, o excesso das atitudes é algo aparentemente instintivo, o que não tira da motivação o caráter de racionalidade.
Émile Durkheim, sociólogo francês, propôs os conceitos de solidariedade mecânica e solidariedade orgânica, consistindo esta em uma “complementariedade das diversas partes da sociedade, isto é, da valorização da autonomia individual para com o corpo coletivo através da divisão do trabalho (em sentido lato)” e aquela nas “semelhanças entre todos os sujeitos da sociedade, formando o ente denominado consciência coletiva”. Com isso, o primeiro significado (de solidariedade mecânica) demonstra uma realidade mais primitiva, onde os seres humanos não detinham o poder extremamente racional, mas apenas a confluência de objetivos como forma de sobrevivência, subjugando qualquer individualidade em nome do bem comum. Já a segunda situação (solidariedade orgânica) evidencia a importância das especificidades subjetivas por dinamizar o contexto social, tendo cada qual a sua contribuição para o todo.
Cercando-se desses conceitos, é preciso analisar o aspecto da razão dentro das paixões. No que concerne à solidariedade mecânica, como acima foi citado, há razão em punir o assassino, mesmo isso trazendo consigo uma paixão de natureza repressora. Os meios, isto é, a forma pela qual a pena será aplicada pode se dissociar do sentido racional pelo excesso, mas o fim é justificado. Na realidade de solidariedade orgânica, cujo agrupamento detém métodos mais razoáveis, não só a motivação é racional, mas os meios são mais comedidos, garantindo uma mensuração mais apropriada da punição. Mesmo que o clamor popular exista, as estruturas legais inibem sua atuação, oferecendo, assim, a sanção adequada ao crime.
Portanto, nem tudo que se pratica de modo apaixonado é ilógico. É possível que o caminho percorrido exceda ao sensato, mas a explicação da finalidade pode ser clara e objetiva.
Imagem: linchamento de Thomas Shipp e Abram Smith em 7 de agosto de 1930, em Indiana, por terem sido acusados pelo roubo de um trabalhador branco e pelo estupro de sua namorada.
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