Tema: Marx e Engels + Sennett.
Na obra “A corrosão do caráter – consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo” - Sennett entrevista Enrico, pai de Rico, trabalhador sindicalizado que tocava a vida mediante o cronograma do sindicato, ao passo que trabalhava visando a sacrifícios para a construção econômica do futuro. O autor compara o capitalismo flexível (de curto prazo) com o capitalismo de longo prazo, sendo caracterizante do primeiro a flexibilidade, oportunizando uma plasticidade do caráter humano tendente a uma corrosão propriamente dita. Já o trabalho de longo prazo permitia o luxo da linearidade de vida, contendo o planejamento e a motivação, com menos chance de alterações de caráter; daí a transformação do homem motivado em homem irônico.
Com efeito, ao analisar a diferença entre os dois tipos de capitalismos, Sennett mostra que o de longo prazo é parte das organizações hierárquicas rígidas com autoridade centralizada e o capitalismo flexível envolve uma constante flexibilidade no sentido de que os trabalhos em equipes ocorrem sem o poder de autoridade inflexível. Assim, o novo capitalismo, através da lógica hipercompetitiva, cria o homem irônico que tem como consequência seu caráter corroído. Logo, por não propiciar as condições para a construção de um tempo linear, há a destruição de valores e da disciplina ética, afetando o caráter pessoal.
Por conseguinte, o novo capitalismo contribui para a corrosão dos laços de amizade e de família, gerando alienação. Dentro disso, os empregados tornam-se meros seres vegetativos, já que não pensam de maneira crítica, tornando-se desqualificados. Outrossim, a indiferença e competitividade levam a um esvaziamento e a um contínuo estado de vulnerabilidade e incertezas para com o futuro. A sociedade passa a se basear em tempo e espaço indefinidos e desregulados, de forma que a continuidade de exposição ao risco extermine o senso de caráter pessoal. Logo, as pessoas tornam-se escravas do presente e do tempo no exercício do correr riscos no novo capitalismo.
O paralelo entre Marx e Engels com o pensamento de Sennett manifesta-se no paradoxo entre o pai Enrico, que exerce o trabalho material visando a sacrifícios para a construção econômica do futuro de sua família, e o filho Rico que pôde exercer o trabalho intelectual na ordem econômica vigente e escolheu propagar a mesma ilusão que os encarcera em contextos laborais distintos. Tal ilusão manifesta-se nesse paradoxo, que dobra as pessoas e as torna escravas do presente do capitalismo flexível, que corrói o caráter a partir da fragmentação do indivíduo e elimina os vínculos sociais. Além do mais, a oposição dessa classe é a materialização do complexo plano ideológico de fragmentação da subjetividade do ser na tentativa de se manter a hegemonia capitalista, ao passo que quanto mais repartido, dividido e multifacetado o indivíduo torna-se mais dominável e manipulável. A lógica do capitalismo flexível impõe as condições de trabalhos que não apresentam significados permanentes, já que há um aumento do individualismo metodológico e da seleção natural de Darwin, alienando os empregados e os transformando em seres vegetativos, já que os de atitude passiva estão iludidos demais para serem capazes de pensar criticamente, tendo a eliminação dos vínculos sociais como consequência, pois o trabalho não apresenta significados mais permanentes.
Portanto, o que pretende-se destacar é que o caráter capitalista do modo de produção, que era primitivo nos séculos XIX e XX, perdurou ao longo do desenvolvimento do processo de trabalho. Exemplos disso são a força do individualismo, o aumento do desemprego e da precarização do trabalho nos setores da economia. Os direitos sociais duramente conquistados pelos trabalhadores estão sendo substituídos ou subtraídos e a "corrosão do caráter" é exemplificada por essas consequências do frágil modelo atual de organização do trabalho no capitalismo.
Sophya Helena Batazuos Resende Bastianini de Souza - RA: 231224771
1º ano de Direito (noturno)
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