Viviane e Max, entregadores de aplicativo, foram humilhados em espaço público por Sandra, moradora de um bairro nobre. Viviane teve a sua perna mordida e Max teve as suas costas chicoteadas. Ambos ouviram falas como “Eu não sou da laia de vocês! Voltem para a favela”, além de outros xingamentos racistas e aporofóbicos. Tal ocorrido não ficou marcado apenas na pele, por meio das marcas de dente e das marcas de chicote, mas também por toda a história daqueles indivíduos, os quais já possuem um passado que estigmatiza os seus corpos.
Analisar esse caso pela perspectiva
marxista é entender a participação do passado no acontecimento presente. Nesse
sentido, o peso da escravidão e o peso da negação de uma plena reparação
histórica ainda impactam o comportamento social. O Brasil foi o último país
americano a abolir o escravagismo e os governos pós- abolição não se
preocuparam em investir em políticas públicas efetivas de inclusão social e
reparação por tamanho erro. Com efeito, a população negra ainda sofre
intensamente com o racismo - mesmo que eles sejam feitos de maneira velada – e
com a pobreza, como pode ser observado na matéria do IPEA que revela que pretos
são a maioria nas favelas. Marx afirma que os homens fazem a sua própria
história, logo, possuem livre-arbítrio, mas eles não a fazem como desejam.
Existem limitações que delimitam a história dos indivíduos que são legadas e
transmitidas pelo passado. Portanto, percebe-se que a desigualdade racial e
social, herdadas do passado brasileiro, são embates travados por minorias e que
impedem uma vivência plena, com equivalência de oportunidades com as demais
classes. Por isso, casos como o de Viviane e Max ainda são noticiados.
O entendimento histórico de tal
dinâmica social contraria o ideal meritocrático pregado pelo mundo coorporativo
e pela classe dominante. Para esses agentes sociais, o sucesso do indivíduo
depende do esforço que ele empreende para conquistar os seus sonhos. Não há uma
análise sociológica e histórica que compreende as mazelas sociais e catracas
invisíveis que impedem que o esforço seja mero instrumento para ascender socialmente.
Esse ideal mascara a bruta realidade em que, apesar de muito suor e trabalho,
ainda existam filas em açougues para que famílias que lutam contra a fome
consigam doação de ossos. Essa discrepância de olhar social demonstra o que
Marx defende acerca da consciência: para ele, não é a consciência que determina
a vida, mas a vida que determina a consciência. Tal determinação é, muitas
vezes, feita por meio da base material. Por isso, há diferentes formas de se
enxergar uma dinâmica social: para o mais abastado, que possui oportunidades e
uma série de privilégios, o esforço pode ser sinônimo de sucesso. Infelizmente,
para a classe social mais baixa, tal correlação nem sempre é verdadeira.
Conclui-se, pois, que analisar a
sociedade a partir de uma concepção materialista da história é compreender o
papel do passado nas dinâmicas contemporâneas e perceber como a base material
influencia consciências engendradas no tecido social. Por tais motivos, os
estudos marxistas estão à luz dos problemas sociais vigentes e se fazem tão
importantes para o entendimento deles.
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