Áudios
são vazados em que uma cantora gospel de sucesso e influência no meio jovem
clama, briga e se mostra desesperada por um cigarro de maconha. Fãs e outros
religiosos que acompanham o trabalho da artista vão às redes sociais demonstrar
indignação e desgosto em relação à situação de Daniela Araújo, a cantora em
questão, “Não é uma pessoa digna de representar os jovens evangélicos”, diziam
alguns comentários. Paralelamente, muitas outras estrelas do meio artístico que
foram foco de atenção internacional devido seus vícios e outros “escândalos”
que destoavam do “bom senso” esperado pelo público conservador, hoje se
submetem às vontades e comandos da indústria cultural para venderem seus
produtos. Este quadro reflete muito bem o tipo de sociedade propostas por
Augusto Comte, uma proposta formulada há quase dois séculos, em que a ordem
lança bases para se alcançar o progresso, ou seja, somente uma sociedade
disciplinada e uniformizada conseguiria proporcionar austeridade ao seu povo.
Entre as
bases para uma vivencia coletiva e harmoniosa está a família, enquanto primeira
instituição que condiciona o indivíduo ao viver comum, o Estado e a Igreja,
enquanto religião e contato imediato com uma filosofia partilhada entre vários,
detentora de uma disciplina própria e, invariavelmente, rígida. Daí, tem-se o
porquê de tamanha polêmica frente à situação da cantora gospel usuária de
maconha, esta era considerada um padrão a ser seguido pelos jovens de um
determinado segmento social, seu ato de “rebeldia” frente ao sistema então
inserida proporcionou comoção uma vez que exacerbou sua individualidade em
relação ao todo, uma evidencia de não amor à sociedade, ou ainda, de não
encaixamento na mesma. Entretanto, a ordem positivista não admite tal contravenção,
clama por padronização e disciplina e repudia qualquer forma de subversão,
tratando-a penalidade racional e objetiva.
Ainda, essa
ordem, que parece estar em vigência no mundo, se mostra agente em casos como
anteriormente expostos de artistas que reformulam sua conduta para serem mais
amplamente aceitos por um público já inserido na lógica positivista. Mas seria
essa lógica, essa ordem a mais adequada para a construção de uma sociedade
democrática e plural para a convivência de etnias, culturas e opções diversas?
Ou seria a base para a estruturação de uma ditadura em que prevalece os ditos “bons
costumes” e se valorizam os “homens direitos” sem espaço para mudanças
saudáveis ao bem comum, tal qual o voto feminino foi no século XX? Ou então, a mais
importante questão, é justo submeter seres dotados de razão e emoções a regras
friamente postas visando unicamente o progresso e suas finalidades práticas,
sem considerar a subjetividade existente em cada um?
Felipe Cardoso Scandiuzzi - 1ª ano - Direito
Matutino
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