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sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Sobre o indivíduo

Tratar de gênero é complexo. Envolve uma gama de fatores que se interligam e conversam entre si. Tratar de gênero é discutir identidade, valores subjetivos, coletivos e, ao mesmo tempo, individuais. É, ainda, questionar os próprios desejos, se as demandas são criadas de baixo para cima ou impostas  pelo grupo - se tal grupo é formado para a defesa dessas demandas individuais ou, ao contrário, o grupo cria certas demandas pelas quais os indivíduos devem lutar ?
Por esse, e vários outros tópicos, não é fácil o diálogo. Envolve uma necessidade em abandonar preconceitos e enxergar, o mais próximo possível, a realidade como o outro vê. Se uma pessoa não se reconhece como sendo do mesmo gênero que a biologia a legou, quem pode chamá-la de doente ? Por muito tempo, em muitas situações, o diferente foi rotulado de mal, errado, patogênico. Mas é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã olhar para o discurso além do bem e do mal. Como disse Nietzsche, o valor da verdade se coloca a frente dos homens e, por isso, todos preocupam-se em encontrá-la. A resposta fundamental da vida, do universo e tudo mais, o absoluto. Querem encontrar seu deus e para isso desconsiderarão tudo aquilo que vai de encontro com que acreditam. A felicidade fica, assim, a mercê daquilo que o outro vê no eu, tornando-se cada vez mais dependente da reconhecimento externo para afirmar a identidade do que se é. Daí surge a tese de que não se nasce homem ou mulher, mas é criado, a partir do sexo biológico, um modo comportamental que será do homem e para o homem, e um outro da mulher e para a mulher. Por outro lado, dentro do próprio movimento feminista, terá uma linha de pensamento, representado por Camille Palia, que vai defender uma ideia distinta tanto para os ideias do movimento em si quanto para a questão da transexualidade. A primeira diz respeito ao feminismo enquanto instituição que irá proteger a burguesia, fato que a autora critica. O segundo, indo além, versa sobre as cirurgias de redesignação sexual como uma ilusão. Nas palavras dela, "é uma ilusão porque todas as células do seu corpo permanecem sendo o que elas sempre foram. Simplesmente não é verdade que você mudou de gênero". Apesar de ressaltar também a importância em se respeitar as vontades individuais, mas que, ao mesmo tempo, essa fluidez de gêneros seria reflexo da decadência cultural. A obsessão com o gênero e com a sexualidade tornara-se o novo narcisismo pós-moderno. Uma alusão a queda do império ocidental.

PEDRO GUILHERME TOLVO - NOTURNO

Referências: 1) Nietzsche, F. Além do Bem e do Mal.
2)http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2015/04/1619320-nao-publicar-entrevista-camille-paglia-fronteiras-do-pensamento.shtml

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