A princípio, quando temos nosso
primeiro contato com o direito, imaginamos que seus dispositivos não são
passíveis de contestação, todavia, numa observação mais detalhada, concluímos
que tudo pode e deve ser questionado – ainda mais quando as regras ditadas e
tidas como exemplares foram elaboradas pela classe detentora do poder.
Assim acontece com o direito das
transexuais. Rotuladas erroneamente pela nomenclatura
"transexualismo", cujo sufixo “ismo” carrega consigo uma marca
patológica, essas pessoas sofrem cotidianamente com o preconceito dessa
sociedade heteronormativa presa a padrões imutáveis – seja na fila do pão, na
busca por um emprego e até mesmo em ambientes acadêmicos. A humilhação à qual
estão sujeitas é insuportável, levando muitas delas ao extremo de cometer
suicídio. Isso é caso de saúde pública e precisa ser tratado como tal.
Não, não é uma doença, é simplesmente
um modo de ser. Nosso psicológico é assim mesmo, nem sempre está em sintonia
com o físico, tanto que as intervenções cirúrgicas por pura estética são vistas
com naturalidade. Por que, então, colocar empecilhos naquelas que visam o
bem-estar mental do ser humano e sua aceitação social?
No caso julgado na cidade de Jales, em
questão, a Transexual pleiteou a cirurgia de mudança de sexo, bem como a
alteração de seu registro civil, para constar novo nome e modificação do sexo
masculino para feminino. Entretanto, seu caso obteve sucesso apenas em primeira
instância, não conseguindo alcançar o objetivo pretendido na segunda instância.
Ela é portadora do direito fundamental
à identidade, do qual se extrai todas as possibilidades acima pleiteadas.
Ademais, derivam-se desse direito a liberdade, a igualdade, a intimidade e a
dignidade da pessoa humana. Como estamos inseridos no modelo capitalismo, o
qual influencia também os rumos do jurídico, essas características mais ligadas
ao socialismo foram deixadas de fora do contrato, os quais são condicionados
por funções meramente econômicas.
Em suma, relacionando o fato com a sociologia do direito weberiana, o status sexual inserido no conceito de personalidade do indivíduo vai muito além da questões relacionadas ao capital, alcança os desejos, as vontades e as representações psíquicas. São esses traços da ética e da pressão dos interesses de grupos que estão influenciando na reivindicação por uma justiça material, a qual caminha para uma acessibilidade maior, mesmo que seus passos sejam demasiado lentos.
"Nós ficamos mais autênticas quanto mais nós nos parecemos com o
que sonhamos que somos. " (Personagem Agrado do filme "Tudo sobre
minha mãe")
Letícia Felix Rafael - 1º ano de Direito (noturno)
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