Em vários das falas apresentadas por congressistas
durante o debate acerca do relatório do impeachment nos últimos dias, a
sensação que se tem é a de caos total no país. Dependentes químicos lotam as
ruas, milícias tomam conta de cidades, números surpreendentes de
desempregados... Algo nunca antes visto.
Sensação parecida se tem também quando, por exemplo, ligamos a TV e nos
deparamos com os chamados programas policialescos, empenhados em tratar a
realidade diária como um grande antro de violência sob o manto de um Estado
ineficaz e incompetente em todos os aspectos, deixando o país quase em estado
anárquico. Cabe a nós então procurar algo que resolva tal situação e ordene a sociedade de modo a colocá-la
de volta no eixo do “progresso” e não do “retrocesso”.
Que é fato que os problemas sociais não são poucos,
isto é, mas é inevitável acreditar que há sempre um exagero por tal tipo de
expressão, a qual normalmente tem um profundo viés conservador, uma vez que
procura manter a sociedade de forma coesa e organizada a tal ponto que beira o
estamento. E as reivindicações por melhorias em determinadas categorias? As
lutas por direitos por minorias? Tudo deve ficar em segundo plano para que a
sociedade possa se manter em ordem.
Essa visão positivista tão utilizada atualmente não é,
de forma alguma, recente. Inicia-se no longínquo século XIX, com o filósofo
Auguste Comte, o qual, advindo de uma época que ainda se espelhava no
cientificismo proposto por Descartes e Bacon, acreditava que a melhor forma de
organização social advinha do surgimento da filosofia positiva, a qual, sob a
égide da ciência, seria capaz de sintetizar todos os nossos princípios
(inclusive sociais, pois Comte propõe a física
social) particulares em princípios gerais, superando assim todo o prévio conhecimento
teológico e metafísico.
Hoje, pouco mais de dois séculos depois, percebe-se
que nem mesmo os maiores avanços científicos (e a própria consolidação da
ciência como forma de obtenção de conhecimento acadêmico) foram capazes de
“organizar” a sociedade a tal ponto que impedisse qualquer desestruturação
social. Até porque o que seria “organizar” a sociedade? Sendo o ser humano um
organismo complexo e os mecanismos sociais ferramentas ainda mais complexas, é
impossível exigir estaticidade da sociedade, uma vez que ela vive de
questionamentos e lutas, devendo estar em constante renovação e não em
constante progresso, uma vez que a própria teologia e metafísica se encontram
como formas de e entender o mundo e não de conhecimento a ser superado.
A violência das ruas, a questão das drogas e o
desemprego certamente são problemas a serem discutidos e combatidos, mas é
inegável que paralelamente a eles estão ocorrendo também reinvindicações por
direitos, movimentos de trabalhadores e lutas secundaristas, por exemplo; ações
que manterão a sociedade sempre em
movimento. Movimento esse que nunca cessará, pois é o motor de uma
estrutura intricada a ponto de ser impossível de ser reduzida a uma simples
ótica cientificista, incapaz de compreender os pequenos detalhes de toda a
nossa dialética social.
Luiz Antonio Martins Cambuhy Júnior
1° Ano Direito Matutino
Impressionada com seu texto! Aquele sonho de um dia escrever maduramente igual você, hahahaha
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