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sábado, 16 de abril de 2016

A serviço das forças dominantes

De acordo com Auguste Comte todas as sociedades caminham fatalmente de um ponto negativo, atrasado (fase teológica) para a civilização (fase positiva), isto é, para algo semelhante à sociedade industrial europeia. Essa teoria eurocêntrica e evolucionista foi usada para mascarar o caráter exploratório do Neocolonialismo. As potências europeias tentaram disfarçar seus reais interesses alegando  levar a ''civilização'' aos povos ‘’atrasados’’ da África e da Ásia. O positivismo abriu, desse modo, mais espaço para a ideia equivocada de culturas superiores e deu alicerce a dominação ocidental sob regiões que até hoje estão na periferia do sistema capitalista muito por conta das heranças da exploração colonial. 
Todavia, não é preciso sair do século XXI para se deparar com vários exemplos do uso explícito e implícito dos ideais positivistas. 
Para a perspectiva comteana não interessa o estudo da essência dos valores morais que regem a sociedade. Sua preocupação é evitar que os valores universais (no caso, a moral burguesa) sejam perturbados, visto que a perturbação causa desordem e inviabiliza o progresso. Dessa forma, atitudes contrárias a ordem vigente são vistas como uma patologia que deve ser curada, reprimida o quanto antes a fim de não comprometer o caminho rumo a uma sociedade regida pela ciência. Foi alicerçado nessas ideias, na promessa de trazer a ‘’ordem’’ e evitar, assim, a subversão e a ‘’ameaça vermelha’’ que o golpe civil militar de 64 ganhou o apoio de parte significativa dos brasileiros e da grande mídia.  
O comportamento subversivo e patológico, no entanto, pode ser contido quando a educação metafísica- a qual inclui as artes, filosofia, literatura- é evitada. Tal educação, para Comte, é ainda mais perigosa à ordem quando é estendida aos proletários, pois ela desperta neles expectativas, ambições e questionamentos que os levam a recusar sua ‘’função social’’. Ademais, a participação das classes populares na política também dificulta o progresso. Na ótica positivista, apenas quem domina o saber científico- que por consequência é aquele que detém o poder econômico- deve governar.
Fica claro que a sociologia comteana serve as forças dominantes. Não é casual, portanto, que o positivismo seja o fundamento das falas e dos textos de famosos nomes reacionários da atualidade, como Olavo de Carvalho e Reinaldo Azevedo e que ele permeie as instituições militares. A ideia de ‘’sociedade superior’’, o afastamento popular do poder e o posicionamento contrário a posturas revolucionárias e questionadoras alicerçam e alicerçaram o discurso daquele subjuga, contribuindo, assim, para a manutenção do status quo. 

Juliana Inácio- 1 ano direito (noturno)

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