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sexta-feira, 25 de setembro de 2015

O valor da vida

Pensar sobre o que o Direito significa e para quem ele serve não é tarefa fácil, entre muitos que se debateram sobre o tema, destacam-se as opiniões diversas de Hegel e de Marx. Enquanto que para o primeiro a lei representa a evolução da ideia de liberdade e tem como ponto chave a vontade livre. Acredita que a medida que o tempo passa há uma transformação dos erros do passado para alcançar a liberdade. O Direito seria, portanto a vontade racional, não só isso, mas também seria fundamentado para servir ao povo, proporcionando felicidade. È sofisticado, pois a relação entre dominados e dominantes se torna sutil, pois para ele todos têm as mesmas oportunidades, porque já não se prende alguém a terra, em sua visão não há escravidão, vivemos livres para tomar nossas escolhas e sofrer as consequências delas.
 Já o segundo pensador, tira o foco no Estado, mostrando que o importante seria olharmos para as classes sociais. Marx critica o ideal burguês de que há isonomia no Estado de Direito, para ele, na verdade, o Direito submete a todos, inclusive o soberano. Assim, o Direito mede e explora todos os homens, privilegia alguns, pois é feito pela elite para a elite. A seu ver, a interpretação de Hegel é somente um reconforto pelo fato de o Direito ser o objeto mais forte de dominação.
Quando se pensa nessas ideias diante do caso Pinheirinho podemos interpreta-los diante das duas lentes, a visão Hegeliana do caso, que se aproxima com a da juíza Márcia Faria Mathey Loureiro e a outra Marxista. Na primeira, pode-se pensar pelo lado de que aquelas famílias estariam se aproveitando de uma área que pertencia a alguém que trabalhou e, portanto merecia aquele lugar, pois a propriedade privada é um bem inalienável. Além disso, há também o argumento de que não caberia ao judiciário e sim a legislativo tomar as medidas cabíveis para relocar aquelas pessoas, pois o privado não pode sofrer diante dos problemas públicos. Seguindo-se consequentemente a máxima de que a lei deve ser cumprida, afinal ela serve de ampara a todos.
 Já na visão de Marx o caso Pinheiro seria um exemplo de como a civilização capitalista pode chegar ao ponto de negar um direito tão básico como a vida e a moradia a fim de proteger a propriedade privada. Questionando se uma empresa vale mais que milhares de pessoas que perderam tudo. Podemos concluir que para o capitalismo, tudo tem um preço, como o desembargador e a própria juíza afirmara em algumas entrevistas onde estipulam um valor ao terreno, mas que o preço a se pagar pela área não cabe ao Estado.  O terreno não tinha uma função social, era uma área enorme que ao invés de servir de moradia a várias famílias estava sob a posse de uma única pessoa, Naji Nahas. Como Marx afirma o Direito é um objeto de dominação e isto se comprova com a decisão da juíza, que como ela mesma disse, teve de escolher entre dois direitos equivalentes o da moradia e da propriedade privada, e acaba por forçar a população do Pinheiro a uma miséria maior do que eles já sofriam. O caso se tornou tão crítico ao ponto de ser criada a “Lei da Fome” e com isso tirar dessas pessoas a possibilidade de usufruir de serviços públicos como creches e hospitais.
A cerca dessa reflexão certos pontos nos levam a questionar se o Direito é somente uma técnica, um instrumento, se não há a razão e o principio da justiça norteando-o. Ademais, o caso teve ampla discussão por conta da mídia, gerando uma enorme comoção, mas enquanto isso existe outras famílias na mesma situação, seria então correto ajudar a população do Pinheiro sendo que há pessoas mais miseráveis? E os trabalhadores da fábrica SELECTA que faliu, não precisam eles também de amparo? Como discutido em sala seria certo o governo custear uma operação de dois milhões a um bebê simplesmente pela comoção midiática? Esse dinheiro não poderia ajudar um número maior de pessoas? Podemos dar valor a vida humana? O olhar da mídia define muito o que acontece dentro do Direito e da sociedade como um todo, um exemplo disso é a comoção gerada por um cartunista francês enquanto milhares de pessoas morriam na Nigéria, o mundo pedia justiça a morte de um enquanto havia inúmeros outros. 

Gabriela Gandelman Torina
1 ano direito noturno 

                

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