O Ponto de Mutação é um filme diferente da maioria publicado pelo
mercado cinematográfico, haja vista pelo seu aspecto cultural,
informacional, intelectual. O filme é um convite ao pensamento crítico e
leva o telespectador a refletir melhor sobre alguns quesitos, a exemplo
da super valorização do método, a questão ambiental, o pedantismo
intelectual.
Descartes e Bacon, apesar de serem de corrente opostas, racionalismo e
empirismo respectivamente, têm opinião comum em um ponto crucial: a
super valorização do método. Sim, o método é essencial, mas não há
ciência que não se relaciona com o povo, a sociedade. Se só pensarmos no
método e esquecermos que vivemos em um contexto muito maior que os
nossos laboratórios, as nossas salas de aula, perderemos algo
imprescindível do seres humanos: o olhar filosófico e a visão solícita.
Essa questão é de suma importância para o estudioso de Direito. Conter o
domínio sobre as técnicas, as normas, os dogmas, as leis é essencial.
No entanto, a técnica qualquer um é capaz de obter ao fazer um estágio
ou ao ler um livro, ou seja, não é um diferencial na formação de filhos,
pais de família, estudantes, profissionais. Consiste no pensamento
crítico, além da metodologia, a verdadeira composição na formação de
bons cidadãos.
Outra questão emergida sobre o filme é sobre o tratamento que o homem
dá a natureza. "Saber é poder" foi a frase proferida por Bacon e que
muitos a consideraram verídica. Essa
idéia pode ser mal interpretada,
levando, assim, ao desmatamento, queimadas, extinção da flora e da
fauna, poluição da água, do ar, da terra entre outros problemos
ecológicos de causas antrópicas. Há de se lembrar, porém, que o homem
simplesmente faz parte do conjunto da natureza e por isso, tudo que
fizer a ela, recairá sobre ele mesmo.
Não se pode deixar de citar, enfim, uma das personagens de O Ponto de
Mutação. Sonia vive fora do tumultuado mundo de empresas, carros,
pessoas, indústrias. Tal personagem se isolou em um lugar a beira-mar,
longe das pessoas que ama, a exemplo de família e amigos. Ela acredita
que longe do conturbado mundo urbano e da mediocridade humana,
encontra-se o verdadeiro conhecimento. Esquece-se, no entanto, que a
prática é muito diferente da teoria, e em um lugar isolado, Sonia não
tem como testar o seu "verdadeiro" conhecimento. Além do que, não há
pessoas ruins ou boas. Os seres humanos são todos iguais na essência:
repletos de medo, anseios, alegrias, dores, fraquezas, crenças. O triste
do pedantismo intelectual é que algumas pessoas acreditam que em
decorrência da Faculdade que faz, do conhecimento que possui, dos livros
que leu é melhor que os outros.
O Ponto de Mutação é um filme sem ação, a estória não relata
um grande amor ou uma radical aventura. Consiste no debate, na troca de
idéias e por isso mesmo causa tantas reflexões como as levantadas acima.
Afinal, o que nos caracteriza como seres humanos é essa capacidade
extraordinárias de pensarmos, questionarmos, reivindicarmos.
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