Houve uma época, por volta dos anos 1920 e seguintes, que a ausência do direito materialmente falando, a falta dos moldes legais para o estabelecimento das relações em regiões afastadas no brasil, fez surgir uma forma diferente para o estabelecimento dos contratos: os homens firmavam seus contratos dando como garantia um fio do bigode, como mostra a letra de Lourenço e Lourival:
“[...]Eu calculo a minha idade pelo regime que eu fui criado
Sou do tempo que o homem negociava de olhos fechado
Dispensava assinatura papeis carimbo e papo furado
Enquanto o fio do bigode era um documento assegurado,
Quando palavra de um homem tinha valor elevado, valia
Dez vezes mais que um milhão de papeis assinados [...]’’
O fio do bigode levava o simbolismo da honra, do respeito e da certeza de cumprimento da palavra. Ia além do racional, porque assumia uma outra alma calcada em elementos afetivos e de manutenção do status familiar que ia de boca em boca.
Ao contrário, o estabelecimento dos contratos hoje são puramente econômicos, não importa se as partes se desconhecem, se são representadas ou se tem um histórico de imoralidade. Pra todos resta o direito, como guardião de padrões mínimos de estabilidade.
Um contrato, portanto, não é símbolo de liberdade, e sim a pressuposição da má-fé. Institui- se um já pensando na prova que este representará em juízo caso não seja cumprido. Seriam os contratos mais uma forma de perceber que estamos nos individualizando cada vez mais?
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