O destino laboral
O capitalismo financeiro articulou o modo de pensar a economia, visto que as relações do Sistema vão além da visão econômica, mas também social e política. Nota-se, portanto, uma estrutura diferente da qual o ser humano vivenciou até então, mais precisamente no que tange o trabalho como ferramenta de sobrevivência e tecnificação dos indivíduos. Ora, a contemporaneidade prega que a economia está dissociada da política, afastando as massas do mundo decisório das leis; logo, quem participa é a classe vigente que se aproveita do afastamento do proletariado para tomar os rumos de uma nação. Com isso, sintetizam-se políticas a favor da burguesia liberal que vão contra, consequentemente, à vida do trabalhador urbano ou rural, como a reforma da previdência no Brasil, informalidade crescente, terceirização desenfreada, "pejotização do trabalho" e "uberização" em todos os meios cabíveis.
Partindo do pressuposto aprensentado, enfatiza-se a obra "Capitalismo e democracia", da Ellen Wood, e também o livro "Re-trabalhando as classes no diálogo norte-sul: trabalho e desigualdades no capitalismo pós-Covid" de autoria do professor de sociologia jurídica Agnaldo de Sousa, pois ambos dialogam e dissertam sobre as condições do trabalho atual, além de trazer um entendimento de como o mundo laboral pode prosseguir se nada for alterado. Assim, para Ellen, o capitalismo alterou a lógica participativa da economia quando desarticulou esta do meio político e militar, fazendo com que o cidadão exerça seus direitos políticos, mas não influencie na economia de fato, ou seja, explicitando uma democracia enganosa a qual transparece liberdade e participação com direitos sociais passivos, mas que não mudam as relações de mercado por essência. Entretanto, percebe-se que nem sempre foi desta forma, já que na Antiguidade o trabalhador/camponês, dono dos meios de produção, participava ativamente das decisões políticas, agregando assim valor a sua classe. Porém, nos dias de hoje, observa-se um distanciamento entre os mundos políticos e econômicos de maneira proposital por meio dos interesses de quem comanda.
Ainda, para o professor Agnaldo e os outros autores que também corroboraram para a criação do livro supracitado, a classe dominante não só define os rumos do modo de como o trabalho está sendo tratado pelas sociedades, como também possuem poder internacional quando analisadas as dicotomias existentes entre o "Norte global" e o "Sul Global", sendo que para entender a geopolítica e seus desdobramentos é necessário dividir quem comanda o jogo econômico e quem obedece. Deste modo, o grupo mais abastado pelo passado colonialista exerce grande influência nos direcionamentos das relações mercantis e, automaticamente, no modo de trabalho exercido por cada sociedade. Assim, estabelece-se a Divisão Internacional do Trabalho (DIT), definindo o papel de cada país no tabuleiro comercial, podendo ser este desenvolvido (com uma industrialização tecnológica imponente) ou subdesenvolvido (dependente de exportação de mercadorias com baixo valor agregado), características estas reafirmadas pela lógica do neoliberalismo. No entanto, o que importa de fato é como essas relações preestabelecidas numa visão macro resultará nas obrigações e condutas regionais dos trabalhadores, restando a incerteza se as desigualdades sociais serão sanadas pela elevação do status do proletário através da reivindicação dos próprios direitos ou o Sistema acabará de fato com as conquistas históricas dos trabalhadores, como garantias e proteções que aos poucos vão se deteriorando e enfatizando as desigualdades trabalhistas.
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