Revolução Francesa, Primavera dos Povos, Revolução Russa:
eis alguns exemplos de eventos que marcaram a história. Há uma semelhança entre
eles: a insatisfação de povos com um regime que os menosprezava e fornecia-lhes
condições indignas de existência. Visando o rompimento de uma ordem opressora e,
por conseguinte, progredir na busca por governos democráticos, conflitos –
físicos e políticos – foram travados. De fato, esse é um padrão que se repete
na história. Notamos, portanto, que
ordem não pode sempre estar diretamente relacionada com progresso, já que manter
a ordem de privilégios para uma classe dominante implica apenas em desordem e
retrocesso para minorias. Entretanto, ao chegar a tal conclusão, contrariamos
princípios básicos do pensamento positivista, desenvolvido por Augusto Comte no
século XVIII, que considera a ordem como ferramenta de atingir o progresso.
Em sua
obra “Curso de Filosofia Positiva”, o criador da “física social” afirma que a
base para tal pensamento é buscar as leis efetivas dos fenômenos sociais. Contraditoriamente, Comte
não busca analisar a origem de tais acontecimentos, o que impossibilitaria uma clara
percepção de mundo. Para ilustrar melhor, pensemos nas duas grandes guerras
mundiais do século XX. Sabe-se que um dos principais motivos para a eclosão da Segunda
foi a ascensão do nazismo alemão. Entretanto, como poderíamos compreender tal
surgimento sem conhecermos as causas do forte sentimento nacionalista dessa
nação? Tal entendimento só seria pleno se soubéssemos como terminou a
Primeira Guerra Mundial, considerando o Tratado de Versalhes como um dos
principais fatores para o sentimento de “revanchismo” no território germânico.
Ora, assim é a história: uma grande rede de acontecimentos – lineares ou não –
que levam a outros. Logo, fica explícito que não é possível chegar ao fim
(conhecer as leis que regem os acontecimentos) sem passar pelos meios (os
motivos dos acontecimentos anteriores).
Ademais,
uma própria análise do racismo estrutural presente na sociedade brasileira mostra
a improcedência da tese positivista. De que adianta apenas constatar que tal
problemática é presente na contemporaneidade se não buscarmos suas raízes
históricas a fim de compreendê-la para erradicá-la? Novamente sob uma
perspectiva histórica, é válido ressaltar como a má realização do processo de
abolição da escravatura contribuiu para a marginalização da população negra, o
que acabou por impedir a ascensão social de muitos. Tal análise não seria
realizada sob um pensamento positivista. Dessa forma, fica a dúvida: para que
se busca o conhecimentos das leis que regem o universo social se suas causas
não são analisadas? Qual a finalidade do conhecimento senão a de buscar um
tratamento justo e igualitário? Uma análise positivista poderia ser considerada
uma “análise de cabresto”, em que não se olha para os lados, apenas para a frente
numa falsa ilusão de alcançar progresso e melhorias sociais com isso.
Dessarte, é
indubitável afirmar que há um equívoco na forma positivista de se analisar o
mundo. De fato, suas bases foram essenciais para o desenvolvimento das Ciências
Sociais. Entretanto, buscar apenas regras sem uma análise crítica da sociedade impossibilita
a busca pelo progresso, visto que a base do conhecimento será rasa, não
identificando as causas e formas de lidar com as principais mazelas sociais. O verdadeiro
progresso não vem unicamente da observação de um fato, mas sim do uso do conhecimento para confrontar uma ordem opressora.
Mateus Gratão Fogassa de Souza
Direito - Turma XXXIX Matutino
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