O
positivismo surge no século XIX, fruto de um contexto sociopolítico caótico.
Criado como tentativa de reorganizar a realidade tendo em vista a desarmonia
das estruturas essenciais para a convivência social, o positivismo visou o
estabelecimento da ordem como pré-requisito para o progresso da humanidade. Essa
ordem estaria condicionada ao estado evolutivo superior das sociedades, o
estado positivo, topo da hierarquia social, caracterizado pelo domínio da
ciência e da racionalidade pela sociedade e institucionalização delas. O
contexto histórico o e objetivo da filosofia positivista quando nascida diz muito
sobre como ela foi usada ao longo da história e como é usada atualmente.
Sendo a
ordem e o equilíbrio da sociedade alguns dos principais valores do positivismo,
existe um consequente grande esforço empregado por entidades e indivíduos de
base positivista que tentam e fazem de tudo, mesmo que irracionalmente, pela
manutenção de um status de equilíbrio social, ainda que este não seja justo
para todos. Dessa forma, em se tratando da questão prática, o positivismo
adquire certo caráter anti-revolucionário muito frequentemente, uma vez que,
historicamente, revoluções foram obrigadas a perturbar as estruturas sociais,
sacrificando a ordem e a harmonia temporariamente em nome da justiça social e
de um bem maior.
A subjetividade
do conceito de ordem positivista também é perigosa, visto que se determinado
grupo social considera harmônica uma sociedade na qual outro grupo específico
não existisse, o ideal do positivismo funciona como base de um preconceito.
Indo mais além, essa ideia de eliminação de outros grupos sociais e de
consequente eugenia é um dos princípios básicos dos movimentos nazifascistas ao
longo da história e ao redor do mundo. Para supremacistas de qualquer espécie,
o equivalente ao estado positivo só se alcança com o extermínio ou subjugação
de populações que não façam parte desse ideal da sociedade perfeita, e a
existência de uma corrente sociológica de nome e status como o positivismo, que
possui preceitos que encaixam no discurso eugenista e supremacista, fornece a
ilusão de uma fundamentação científica e legalidade do que se diz.
Num contexto
mais atual, o positivismo serviu de base ideológica para a expressão de muitos
absurdos. Um exemplo disso é o livro “O Imbecil Coletivo”, de Olavo de
Carvalho. No capítulo em que o autor expressa sua opinião sobre homossexuais, o
autor se utiliza de argumentos cientificamente infundados, mas que se
relacionam com a ideologia positivista. Na tentativa de encontrar algo para
designar a comunidade LGBT como anormal, desnecessária e inferior, Olavo de
Carvalho apela para o que Comte chamaria de moral coletiva, ao afirmar que o
comportamento homossexual é obstáculo ao desenvolvimento da sociedade, uma vez
que não implica reprodução.
Olavo de
Carvalho pinta o movimento LGBT e a reivindicação pelo fim do preconceito
contra este, em seu texto, como o oposto da ordem, o obstáculo ao
estabelecimento da harmonia social e que por consequência dificulta a aquisição
do progresso. Para Olavo, o desenvolvimento da sociedade se caracteriza apenas
pelo aspecto científico/econômico e, dessa forma, prescinde de diversidade
entre as pessoas. Isso vai de encontro com as teorias, muito mais racionais,
por sinal, que definem o progresso social e desenvolvimento geral da humanidade
como uma conjunção dos esforços das esferas política, econômica, científica e
social.
Leonardo Bastos Stevanato - 1° ano matutino
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