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sexta-feira, 24 de julho de 2020

O positivismo como justificativa do injustificável


O positivismo surge no século XIX, fruto de um contexto sociopolítico caótico. Criado como tentativa de reorganizar a realidade tendo em vista a desarmonia das estruturas essenciais para a convivência social, o positivismo visou o estabelecimento da ordem como pré-requisito para o progresso da humanidade. Essa ordem estaria condicionada ao estado evolutivo superior das sociedades, o estado positivo, topo da hierarquia social, caracterizado pelo domínio da ciência e da racionalidade pela sociedade e institucionalização delas. O contexto histórico o e objetivo da filosofia positivista quando nascida diz muito sobre como ela foi usada ao longo da história e como é usada atualmente.

Sendo a ordem e o equilíbrio da sociedade alguns dos principais valores do positivismo, existe um consequente grande esforço empregado por entidades e indivíduos de base positivista que tentam e fazem de tudo, mesmo que irracionalmente, pela manutenção de um status de equilíbrio social, ainda que este não seja justo para todos. Dessa forma, em se tratando da questão prática, o positivismo adquire certo caráter anti-revolucionário muito frequentemente, uma vez que, historicamente, revoluções foram obrigadas a perturbar as estruturas sociais, sacrificando a ordem e a harmonia temporariamente em nome da justiça social e de um bem maior.

A subjetividade do conceito de ordem positivista também é perigosa, visto que se determinado grupo social considera harmônica uma sociedade na qual outro grupo específico não existisse, o ideal do positivismo funciona como base de um preconceito. Indo mais além, essa ideia de eliminação de outros grupos sociais e de consequente eugenia é um dos princípios básicos dos movimentos nazifascistas ao longo da história e ao redor do mundo. Para supremacistas de qualquer espécie, o equivalente ao estado positivo só se alcança com o extermínio ou subjugação de populações que não façam parte desse ideal da sociedade perfeita, e a existência de uma corrente sociológica de nome e status como o positivismo, que possui preceitos que encaixam no discurso eugenista e supremacista, fornece a ilusão de uma fundamentação científica e legalidade do que se diz.

Num contexto mais atual, o positivismo serviu de base ideológica para a expressão de muitos absurdos. Um exemplo disso é o livro “O Imbecil Coletivo”, de Olavo de Carvalho. No capítulo em que o autor expressa sua opinião sobre homossexuais, o autor se utiliza de argumentos cientificamente infundados, mas que se relacionam com a ideologia positivista. Na tentativa de encontrar algo para designar a comunidade LGBT como anormal, desnecessária e inferior, Olavo de Carvalho apela para o que Comte chamaria de moral coletiva, ao afirmar que o comportamento homossexual é obstáculo ao desenvolvimento da sociedade, uma vez que não implica reprodução.

Olavo de Carvalho pinta o movimento LGBT e a reivindicação pelo fim do preconceito contra este, em seu texto, como o oposto da ordem, o obstáculo ao estabelecimento da harmonia social e que por consequência dificulta a aquisição do progresso. Para Olavo, o desenvolvimento da sociedade se caracteriza apenas pelo aspecto científico/econômico e, dessa forma, prescinde de diversidade entre as pessoas. Isso vai de encontro com as teorias, muito mais racionais, por sinal, que definem o progresso social e desenvolvimento geral da humanidade como uma conjunção dos esforços das esferas política, econômica, científica e social.


Leonardo Bastos Stevanato - 1° ano matutino



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