Diante
da maior crise de saúde pública que afeta em larga escala todo o globo, os
estudos do positivismo permanecem atemporais ao se considerar o problemático
cenário atual, que envolve paradigmas econômicos, sociais e políticos, além de
adequações ao chamado “Novo Normal” estabelecido em readaptações nas relações
de trabalho, estudos e hábitos baseados no distanciamento social, pois, assim
como defendeu Michel Foucalt: “o novo não está no que é dito, mas no
acontecimento de sua volta”. Assim, essa realidade que permeia as relações
interpessoais contemporâneas tem criado adaptações inovadoras para, como
buscava o sociólogo Augusto Comte, considerado o pai do positivismo, organizar
a sociedade de forma a evitar o caos no qual nos vemos mergulhados diante de
uma ameaça invisível e mortal, o novo coronavírus.
Desse
modo, o desenvolvimento da ciência como alicerce no combate ao vírus para, por
exemplo, a criação de vacinas ou até mesmo estudos sobre as formas de contágio
e prevenção da doença tem crescido exponencialmente e, segundo a Unicamp, a
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), já investiu mais
de 30 milhões em pesquisas nessa área. Ademais, nesse contexto evidencia-se o
conhecimento positivo da qual tratava Comte, em que se prioriza a organização e
conhecimento da natureza com base na ciência, pois, assim como defendiam
Descartes e Bacon, o conhecimento verdadeiro é fruto da experiência cientifica,
opinião difundida pela corrente positivista.
Além
disso, a pandemia da Covid-19 tem favorecido o altruísmo entre os indivíduos,
prática essencial defendida por Comte, uma vez que, as formas de prevenção da
doença vão muito além do cuidado próprio, já que praticar o isolamento social,
utilizar máscara em locais públicos e higienizar as mãos constantemente são
ações que evitam a propagação da doença e evidenciam a preocupação com o
próximo, pois, os cuidados individuais são os passos principais para a proteção
coletiva e nos tornam cada vez mais interligados, mesmo que, nesse momento, à
distância.
Entretanto,
há controvérsias em relação ao pensamento positivista e o cenário atual, uma
vez que, a ausência de tratamentos para o combate ao vírus obrigou a maioria
dos países a optar pelo isolamento e a suspensão das atividades, o que pode
instaurar crises que afetam tanto questões sociais, quanto econômicas e
políticas, que poderiam resultar, para Comte, em uma verdadeira anarquia e
retrocesso da sociedade. Assim, tem se buscado opções para manter as atividades
econômicas em tempos de distanciamento,
como a adoção do home office, mas
que, de acordo com dados da Revista
Nexo, apenas 11% dos empregados realizaram trabalho remoto no Brasil, ou seja,
a grande maioria dos trabalhadores estão ser exercer suas funções.
Por
isso, ao considerar-se o caso brasileiro, que estampa em seu maior símbolo
nacional o lema de Augusto Comte: “Ordem e Progresso”, o retorno das atividades
foi uma ação rapidamente considerada - mesmo com os elevados números de casos
confirmados da doença e, hoje, a marca de 80 mil vidas perdidas – pois, o
trabalho tem espaço privilegiado em uma sociedade que é mantida pela sua força,
principalmente em virtude da harmonia social.
Partindo
de uma outra análise, os estudos do positivismo serviram como palco para o
surgimento de pensamentos como o do brasileiro Olavo de Carvalho, que se
utiliza da moral social da qual trata Augusto Comte para fundamentar a questão
homoafetiva tratada como uma “privação da capacidade heterossexual” e,
portanto, como patológica, defendido em sua obra “O Imbecil Coletivo”, mais
especificamente no capítulo “Mentiras Gays”.
Assim,
tal moral olaviana vincula-se a funcionalidade do conjunto como acepção da sua
manutenção física, não atentando-se ao bem estar coletivo, mas, na realidade, a
uma concepção superficial e imediatista, assim como os raciocínios simplistas propagados
no atual cenário pandêmico, como a banalização do vírus como uma mera “gripezinha”
- pelas palavras do próprio Presidente do Brasil -, que incluem o desrespeito
ao uso de máscaras e aglomerações, ou o uso irresponsável da Hidroxicloroquina para
a cura da doença, mesmo sem estudos científicos comprobatórios, no qual segue o
negacionismo defendido por Olavo.
Por
fim, é valido a análise do viés positivista no atual cenário da pandemia do novo
coronavírus, mesmo depois de dois séculos do surgimento dessa corrente
filosófica, uma vez que, como defendeu Augusto Comte: “o progresso é a lei da história
da humanidade, e o homem está em constante processo de evolução”.
Referências:
VELLOSO, L. A. A contribuição da ciência na
pandemia de Covid-19. Unicamp, 2020. Disponível em: <https://www.unicamp.br/unicamp/noticias/2020/04/02/contribuicao-da-ciencia-na-pandemia-de-covid-19>.
Acesso em: 20 de jul. de 2020.
SOUZA, C.; ZANLORENSSI, G. O home office no
Brasil durante a pandemia de Covid-19. Revista Nexo, 2020. Disponível
em: <https://www.nexojornal.com.br/grafico/2020/07/16/O-home-office-no-Brasil-durante-a-pandemia-de-covid-19>.
Acesso em: 20 de jul. de 2020.
Ana Carolina de Campos
Ribeiro – 1º ano Direito matutino
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