O positivismo é
uma corrente da sociologia idealizada por Auguste Comte, grande pensador da
Idade Moderna. Tal corrente é baseada na ideia de um contínuo progresso social
e científico. Para Comte, esse progresso deve ser sempre reforçado e, para
isso, os interesses coletivos devem ser sobrepostos aos interesses individuais
ou de grupos minoritários, como pode ser observado na seguinte afirmação: “(...)
o homem propriamente dito não existe, existido apenas a Humanidade, já que o
nosso desenvolvimento provém da sociedade. ” (COMTE, 1844, p. 77).
A corrente também
compreende que a harmonia social é alcançada a partir do cumprimento do papel
estabelecido pela moral da sociedade em questão, reforçando, assim a importância
da moralidade. Além disso, o positivismo também considera que a desigualdade
social seria uma característica normal, natural da sociedade e que, portanto,
não precisa ser combatida.
Apesar de muito
questionada na contemporaneidade, a corrente criada por Comte ainda tem muita influência
no modo de pensar de alguns brasileiros. Olavo de Carvalho, por exemplo, é um
dito “filósofo” brasileiro que se baseia em ideais positivistas para construir
sua obra, sendo esta majoritariamente pautada pelo preconceito por grupos minoritários.
Em seu livro intitulado “O Imbecil Coletivo”, mais especificamente na parte em
que o autor trata das ditas “Mentiras Gays”, Carvalho deixa claro seu preconceito
contra a comunidade LGBTQIA+, ainda que esse preconceito esteja disfarçado,
encoberto por justificativas que o autor considera que sejam “científicas”.
Para Olavo de
Carvalho, o ponto principal de crítica a homossexualidade é o fato de que o
relacionamento homoafetivo não é capaz de gerar novos indivíduos. Em um dos
trechos do texto, o autor afirma que “(...) o homossexualismo [sic] não é uma
necessidade de maneira alguma, mas apenas um desejo. A supressão total da
homossexualidade produziria muita insatisfação em certas pessoas; a
heterossexualidade traria a extinção da espécie. ” (CARVALHO,1999, p. 235-236).
Nesse trecho, ao citar a importância da manutenção da espécie, é claro que
Carvalho utiliza a ultrapassada concepção positivista de superioridade da
coletividade para justificar a discriminação cotidiana que a comunidade
LGBTQIA+ sofre diariamente.
Ademais, durante
todo o texto, Carvalho insiste em afirmar que a homossexualidade é pautada
apenas no desejo e na “preferência pessoal” dos indivíduos, anulado assim a
possibilidade de os homossexuais serem compreendidos como seres sociais, dignos
de direitos específicos que lhes garantam uma vida livre da discriminação. O
autor ignora totalmente os princípios da dignidade humana ao definir as pessoas
da comunidade LGBTQIA+ de modo superficial, contribuindo, dessa maneira, para a
manutenção da descriminação desse grupo.
Nesse contexto, o
positivismo e seus princípios que difundem a ideia de progresso acima de tudo e
todos precisam ser questionados e avaliados em uma perspectiva contemporânea,
que valorize cada indivíduo e seus interesses como importantes e necessários.
Dessa maneira, talvez podemos ver uma redução da propagação de ideias como as
defendidas por Olavo de Carvalho.
Júlia Scarpinati - 1° ano Direito - Matutino.
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