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sexta-feira, 24 de julho de 2020

O Imbecil Positivista.



O positivismo é uma corrente da sociologia idealizada por Auguste Comte, grande pensador da Idade Moderna. Tal corrente é baseada na ideia de um contínuo progresso social e científico. Para Comte, esse progresso deve ser sempre reforçado e, para isso, os interesses coletivos devem ser sobrepostos aos interesses individuais ou de grupos minoritários, como pode ser observado na seguinte afirmação: “(...) o homem propriamente dito não existe, existido apenas a Humanidade, já que o nosso desenvolvimento provém da sociedade. ” (COMTE, 1844, p. 77).
A corrente também compreende que a harmonia social é alcançada a partir do cumprimento do papel estabelecido pela moral da sociedade em questão, reforçando, assim a importância da moralidade. Além disso, o positivismo também considera que a desigualdade social seria uma característica normal, natural da sociedade e que, portanto, não precisa ser combatida.
Apesar de muito questionada na contemporaneidade, a corrente criada por Comte ainda tem muita influência no modo de pensar de alguns brasileiros. Olavo de Carvalho, por exemplo, é um dito “filósofo” brasileiro que se baseia em ideais positivistas para construir sua obra, sendo esta majoritariamente pautada pelo preconceito por grupos minoritários. Em seu livro intitulado “O Imbecil Coletivo”, mais especificamente na parte em que o autor trata das ditas “Mentiras Gays”, Carvalho deixa claro seu preconceito contra a comunidade LGBTQIA+, ainda que esse preconceito esteja disfarçado, encoberto por justificativas que o autor considera que sejam “científicas”.
Para Olavo de Carvalho, o ponto principal de crítica a homossexualidade é o fato de que o relacionamento homoafetivo não é capaz de gerar novos indivíduos. Em um dos trechos do texto, o autor afirma que “(...) o homossexualismo [sic] não é uma necessidade de maneira alguma, mas apenas um desejo. A supressão total da homossexualidade produziria muita insatisfação em certas pessoas; a heterossexualidade traria a extinção da espécie. ” (CARVALHO,1999, p. 235-236). Nesse trecho, ao citar a importância da manutenção da espécie, é claro que Carvalho utiliza a ultrapassada concepção positivista de superioridade da coletividade para justificar a discriminação cotidiana que a comunidade LGBTQIA+ sofre diariamente.
Ademais, durante todo o texto, Carvalho insiste em afirmar que a homossexualidade é pautada apenas no desejo e na “preferência pessoal” dos indivíduos, anulado assim a possibilidade de os homossexuais serem compreendidos como seres sociais, dignos de direitos específicos que lhes garantam uma vida livre da discriminação. O autor ignora totalmente os princípios da dignidade humana ao definir as pessoas da comunidade LGBTQIA+ de modo superficial, contribuindo, dessa maneira, para a manutenção da descriminação desse grupo.
Nesse contexto, o positivismo e seus princípios que difundem a ideia de progresso acima de tudo e todos precisam ser questionados e avaliados em uma perspectiva contemporânea, que valorize cada indivíduo e seus interesses como importantes e necessários. Dessa maneira, talvez podemos ver uma redução da propagação de ideias como as defendidas por Olavo de Carvalho.


Júlia Scarpinati - 1° ano Direito - Matutino.

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