Responsáveis pela ruptura com a filosofia tradicional contemplativa oriunda da Antiguidade, no século XVII, durante o início da ascensão da burguesia como classe dominante, os métodos na busca pelo verdadeiro conhecimento elaborados por Francis Bacon e René Descartes, mediante as publicações de, respectivamente, “Novum Organum” (1620) e “Discurso do Método” (1637) foram de suma importância para o desenvolvimento da ciência na Modernidade e, consequentemente, para a transformação da humanidade. Contudo, apesar da célebre contribuição e da evidente relevância dessas obras, atualmente, é notório a ocorrência de uma crise epistemológica, em que, sem nenhum tipo de fundamento plausível, movimentos conspiratórios — como o terraplanista e o antivacina — desvirtuam-se dessas bases, refutam comprovações científicas e propagam teorias inautênticas ao senso comum, o que resulta, assim, na desvalorização do pensamento científico.
De acordo com o método empregado por Bacon, considerado “o pai da filosofia experimental”, após a superação de distorções que dificultam a emancipação da mente humana — os chamados “ídolos” , deve-se buscar a verdade por meio do uso de sentidos experimentais, orientados pela razão. Contudo, ao alegarem que seus sentidos simplesmente indicam que a Terra é nivelada, sem nenhum critério ou parâmetro verossímil, os terraplanistas não aplicam nenhum dos critérios ordenados por Bacon ou de qualquer outra base epistemológica coerente, pois da mesma maneira que a esfericidade do planeta, as ondas de rádio, a título de exemplo, não podem ser perceptivas, mesmo estando presentes. Outrossim, outros coletivos, como o antivacina, fazem o uso do ceticismo metodológico de Descartes, a primeira das quatro etapas de seu método, de modo errôneo, ao questionarem conhecimentos irredutivelmente ostensivos — no caso, a procedência das vacinas, que, notoriamente, foram responsáveis pela extinção de várias doenças, o que evidencia, mais uma vez, a falta de bases epistemológicas na conclusão desses “conhecimentos”.
Ademais, infere-se que, mesmo não tendo nenhuma base epistemológica coesa, os respectivos ideais inexatos do negacionismo científico conseguem perpetuar no senso comum, o que faz com que as massas acreditem nessas inverdades. Isso acontece pois há claramente uma crise nas atuais instituições, especialmente nos meios de comunicação tradicionais que, em tempos da era digital, não conseguiram acompanhar a necessidade de agilidade na busca por informações pelas populações, o que fez com que uma mídia alternativa — como grupos de WhatsApp e canais do YouTube, principais canais de comunicação utilizados por esses movimentos, que não possuem nenhum tipo de credibilidade, prosperassem, ocasionando, dessa maneira, uma crise epistemológica na contemporaneidade.
Luís Arquimedes Takizawa Albano - Direito Noturno
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