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sábado, 7 de março de 2020

A Ciência moderna em tempos obscuros


Durante o século XVII, diversos pensadores refletiram acerca da produção científica. Dentre eles, Francis Bacon e René Descartes se destacaram na publicação de obras referentes a tal tema. Embora divergentes em alguns aspectos, Novum Organum, de Bacon e O Discurso do Método, de Descartes, buscam discutir sobre as novas formas de produzir conhecimento e, além disso, sobre como a ciência pode entrar em conflito com os conceitos já pré-estabelecidos na sociedade.
Apesar de carregarem consigo as crenças referentes ao contexto no qual estavam inseridos, os autores discorrem sobre a importância de abandonar o senso comum e relativizar a religiosidade e as superstições para adentrar no campo científico. Sendo assim, a razão e a experiência seriam caminhos válidos para alcançar uma verdade. Cerca de quatro séculos depois, apesar do aprimoramento do método científico e da própria ciência moderna, vemos um retrocesso na maneira que os indivíduos compreendem a produção do conhecimento.
O obscurantismo e o negacionismo científico estão presentes das conversas informais do cotidiano aos discursos dos representantes governamentais ao redor do globo. A existência de uma grave crise climática, fato já comprovado em importantes pesquisas, é fortemente questionada pelo presidente dos Estados Unidos, um dos países mais influentes do mundo e um dos grandes responsáveis pelo agravamento de problemas ambientais. No Brasil, as propostas de Bacon e Descartes sobre o conhecimento ser orientado pela razão e pela experiência, afastando-se dos dogmas religiosos, são desconsideradas em discursos como o da ministra Damares Alves, que afirmou: “A igreja evangélica perdeu espaço na história. Nós perdemos o espaço na ciência quando nós deixamos a teoria da evolução entrar nas escolas, quando nós não questionamos. Quando nós não fomos ocupar a ciência”.
Dessa forma, podemos entender que o contexto contemporâneo é marcado pela forte influência do que Bacon denomina “ídolos”, elementos do cotidiano que podem surgir como obstáculo à instauração da ciência moderna, já que bloqueiam a mente humana da reflexão e do pensar crítico. Nesse contexto, mesmo que o método científico siga os princípios básicos da razão científica segundo Descartes, como o princípio de “nunca aceitar algo como verdadeiro que eu não conhecesse claramente como tal”, a influência dos ídolos parece prevalecer em tempos de obscurantismo científico.

Júlia Scarpinati - 1º ano Direito- Matutino 

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