Sobre a XXVIII Semana Jurídica:
Reformas ou “Deformas”??
Dois assuntos em voga no
cotidiano do brasileiro são a Reforma Previdenciária e a Reforma
Trabalhista. Ambas tem sua discussão baseada, por exemplo, nas
mudanças estruturais ocorridas no mundo das relações trabalhistas
e na alteração das taxas demográficas que são verificadas com o
passar dos anos em praticamente todos os países.
Data venia, somos a favor de
ambas as reformas. Entretanto, a forma como elas têm sido conduzidas
por nossos representantes políticos é que causa estranheza e
indignação. A crise política instaurada em nosso país, deflagrada
por um duvidoso processo de impeachment, em que o plano vitorioso nas
urnas foi extirpado do poder pelo plano neoliberal derrotado, gera
essa sensação de estranheza e indignação na condução dessas
reformas a toque de caixa (mas não vamos nos alongar nessa discussão
política).
Voltemos aos motivos que nos
fazem ser a favor de tais reformas.
Inicialmente,
é importante salientar que as
questões relativas à
seguridade social e à
previdência social se
relacionam de forma direta com os regimes de trabalho e com
a estrutura
trabalhista. É
de acordo com esse tipo de estrutura que se definirá, por
exemplo, como será a
forma de contribuição durante a vida dos futuros segurados e como
estes sustentarão
os atuais segurados pela previdência. Assim,
é importante ressaltar
que a Reforma Trabalhista deve ocorrer em diapasão com a
Previdenciária.
Além
disso, percebemos que a
estrutura e organização do trabalho no Brasil sofreram mudanças
significativas, considerando os últimos cinquenta anos. Com
a globalização e o surgimento da internet, facilitando a livre
circulação de mercadorias entre os países e criando novas
necessidades de consumo, gerou um ambiente de instabilidade nos
empregos que não se via antigamente. Alia-se a esse cenário, formas
de trabalho mais flexíveis, como a terceirização.
Portanto,
vemos a necessidade de reformas haja vista essa mudança de paradigma
no mundo do trabalho. Para
reforçar essa análise,
podemos elencar o fator demográfico para
a discussão.
É sabido que a
cada ano aumenta a expectativa de vida do
ser humano e no Brasil,
especificamente, diminui
a taxa de natalidade da sociedade brasileira por diversos fatores.
Com
isso, cria-se um novo problema diretamente relacionado à previdência
social. Afinal, no
sistema previdenciário, a PEA (população economicamente ativa) é
quem sustenta aposentadorias e pensões da população inativa.
Assim,
quanto menor a taxa de natalidade, menor será a PEA a longo prazo.
Consequentemente,
teremos
menos dinheiro advindo desta fonte para sustentar o sistema
previdenciário. Em
termos práticos, estudos comprovam que a taxa da população
economicamente ativa que sustenta aposentados e pensionistas caiu de
6 para 1,3 aproximadamente.
Por
fim, apesar de termos elementos suficientes e necessários para as
reformas em epígrafe, resta-nos uma análise sobre como estas
reformas estão sendo tratadas por nossos representantes. Numa
democracia que se preze, esses temas seriam discutidos com todos os
atores sociais diretamente envolvidos (empregados, empregadores e
governo, citamos
sucintamente).
E
não é o que ocorre atualmente. O “novo” governo, conforme
já comentamos acima, adotou uma reforma em tons neoliberais a toque
de caixa sem a devida discussão democrática necessária. E está
impondo uma Reforma Trabalhista que fere muitos dos direitos
trabalhistas conquistados com tanto suor ao longo dos anos. Além
disso, pretende impor ao
povo a Reforma
Previdenciária da mesma forma.
Para
justificar a nossa posição, contrária a essas reformas da forma
como estão sendo empreendidas, elencamos os seguintes fatores:
Na
seara trabalhista, o trabalho toma um caráter precário,
descartável. Quando há falência, por exemplo, criam-se
dificuldades imensas para o trabalhador exigir seus direitos. E
a terceirização gera
a perda de representatividade na luta por esses direitos. Entre
outras coisas, trabalha-se mais, ganha-se menos,
a desigualdade entre
efetivos e terceirizados aumenta, as empresas tendem a investir menos
no segurado e em segurança e aumenta-se o lucro em detrimento dos
salários. E o mais importante na nossa visão, cria-se
um conflito de normas pois há duas regulando o mesmo tema, gerando
uma terrível segurança jurídica para o trabalhador brasileiro
(pólo
hipossuficiente da relação trabalhista).
Já
na seara
previdenciária, o
conteúdo reformador proposto pela PEC 287, entre
outras coisas, dificulta acentuadamente
a obtenção do benefício da aposentadoria para a população, com o
aumento considerável no tempo de contribuição e na idade mínima,
desconsiderando desigualdades geográficas em razão da zona de
trabalho (rural e urbana) e em razão da desigualdade regional,
passando por cima, ainda, das diferenças de gênero. Ademais,
reduzem o já escasso tempo médio de fruição do benefício
previdenciário, acentuando o grave quadro social brasileiro e
minguando a qualidade de vida dos aposentados.
Além
disso, a reforma não leva em conta as políticas de desonerações e
subsídios implementadas pelos governos anteriores aliadas ao perdão
de dívidas bilionárias via Refis causando um rombo astronômico na
previdência, apenas depositando
na conta dos mais pobres o saldo negativo dessa ingerência
governamental.
Ainda
cabe uma menção (des)honrosa à "desligitimidade" dos congressistas,
que devem mais de um bilhão aos cofres públicos, para a votação
da reforma, incentivando a sonegação e desonerando os grandes
devedores que são as grandes empresas, via de regra.
Sem
mais delongas, em nossa visão, o “novo” governo segue um roteiro
neoliberal distinto do que a maioria da população escolheu no
último pleito em 2014 e faz avançar no país um retrocesso jamais
visto, onerando o cidadão comum e desonerando as grandes empresas,
em benefício próprio. A formalização do emprego, o fim
do programa de desonerações e o ajuste das aposentadorias do setor
público, por
exemplo, seriam as medidas mais acertadas a serem tomadas na
consecução dessas reformas. Infelizmente, o governo tem tomado o
caminho oposto a isso.
RODRIGO VILAS BOAS DE SOUZA RA 2205711
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