Prezado Karl Marx,
Tenho estudado sua obra
– queiram, ou não, ela mostra-se capital para entender qualquer evento de nossa
história recente – e, no momento, confio modestamente ter me deparado com alguns
desacertos em suas teses – consciente de que posso tão-só não ter bem compreendido
suas pressuposições, temendo assim cometer uma famigerada “deturpação”. Por
isso, creio ponderadamente poder sanar alguns questionamentos com o senhor e
ainda lhe trazer boas novas do mundo atual.
Chamou-me a atenção o
“valor real” dos produtos, que seria exclusivamente determinado segundo a
quantidade de trabalho da sua produção, tendo o preço uma espécie de caráter intrínseco
a eles. O senhor não acredita que isso seja um tanto generalizante? Digo, não
seria de bom tom levar em conta o valor subjetivo derivado do grau de utilidade e serventia que
o referido produto virá a ter para a comunidade? Levando-se em conta apenas a
“quantidade de trabalho” não teríamos aberrações como uma fábrica de gelo construída
no Alaska valendo o mesmo que uma no deserto do Saara? Ainda, acresço, rejeitar
as variáveis de um preço não seria absurdamente afiançar que não existem
diferenças entre valor presente e valor futuro? Por mais que um pouco de ouro tenha
valor absurdamente maior do que um copo de água no momento presente, em um
futuro hipotético e trágico em que falte água, essa situação poderia se dar
distintamente, não?
Ainda no seu método,
permita-me continuar: sob a ótica do explorador e explorado, capitalista versus
proletário, como abarcar um humilde vendedor de algodão doce que, ao ter um
aumento em sua demanda – fruto de seus esforços, bons serviços e iniciativa −,
porventura contrate um assistente para ajudá-lo? E um diretor assalariado da
mais alta cúpula de uma multinacional petrolífera? O primeiro, enquanto capitalista,
estaria sendo explorador; o segundo, enquanto, proletário, o explorado? Outro,
a mais-valia também não acaba por não levar em conta os riscos dos
investimentos que o empreendedor dispõe inicialmente? Em miúdos, o empreendedor
paga – capital esse que poderia usar para consumo ou investimento seguro − aos
trabalhadores, de antemão, com bens presentes em troca de auferir bens no
futuro, correndo o risco de não recebê-los, sendo o lucro uma recompensa ou
incentivo desse sacrifício de reserva. Parece-me natural, não? Ninguém o faria
gratuitamente, penso.
Expostas algumas imprecisões
iniciais, não poderia mantê-lo aquém dos eventos por aqui. Sem me alongar, em
síntese, o projeto socialista ou comunista acabara não rendendo bons frutos por
aqui, não. Acharia desairoso e pretencioso atribuir-lhe todo o fracasso dessas
experiências, contudo, não posso me privar de opinar que alguns de seus
enunciados, como “cada país deva, antes de tudo, liquidar sua própria burguesia”, “derrubada violenta da burguesia”, “descrevemos a história da guerra civil”, “a burguesia produz,
sobretudo, seus próprios coveiros”, “violação despótica do direito de
propriedade” acabaram possivelmente por engrenar projetos ditatoriais e totalitários
– como disse Bakunin “O teu sistema vai se tornar ditadura!”. Lenis, Stalin, Mao, Kim ll-sung, Ceausescu, Che, Fidel,
Ho Chi Minh, Pol-pot acabaram por praticar não mais do que atrocidades e genocídios.
Entre seus feitos encontram-se reiteradamente as mais repressivas perseguições
políticas, campos de concentração, pelotões de fuzilamento − contextualizados
em inevitáveis cenários de fome, miséria e barbárie. Pol Pot, por exemplo, em apenas
3 anos, dizimou 24% da população do Camboja. Stalin foi responsável pela morte
de cerca de 5 milhões de ucranianos, somente no chamado Holodomor – o
Holocausto Ucraniano. Os cubanos são subjugados pela dinastia dos irmãos
bilionários Castro – Fidel chegou a alcançar o posto de 7º governante mais rico
do mundo, superando inclusive a rainha Elizabeth do capitalista Reino Unido −
há mais de 50 anos; e outro país, a Venezuela, aqui da América Latina, tem lamentavelmente
ido para a mesma direção despótica.
Chegando ao fim,
gostaria de reiterar toda sua importância para a compreensão do mundo atual e
já me desculpar pelo excesso de questionamentos e pretensões. Por último, para
confortá-lo – assim almejo −, posso abalançar que o mundo moderno tem começado
vagarosamente a entender o valor da liberdade. Conseguimos, por ora, apartar-nos
um tanto dos vastos ensaios totalitários, que conclamam conforto e prometem
caminho fácil para reduzir a miséria. Ajuízo que quanto mais se peregrinar
nesse sentido da confiança nas próprias seivas e iniciativa − e buscar-se a
real libertação −, mais longe possível do aparelho defeituoso, arbitrário e
coercitivo estatal, poderemos almejar uma relativa prosperidade, afastando-nos inclusive das crises atuais. Aliás, outra boa nota: seu receio apocalíptico
quanto ao desemprego estrutural decorrente das máquinas não tem se confirmado,
viu? Com todo avanço tecnológico assistido desde o século XIX, a população
mundial cresceu em 6x e a expectativa de vida mais do que duplicou.
Espero ansiosamente
as respostas,
De um partidário
das liberdades e do indivíduo livre de fato e de direito,
João Vitor Penteado
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