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domingo, 3 de setembro de 2017

Ecce Homo ou O desafio de escrever sobre Marx sem usar a palavra Capitalismo


Somos frutos do passado. Frutos de uma flor anterior, uma árvore antecedente, uma germinação passada. Somos aquilo que foi possível ser. A história como principal agente determinante da condição humana, também se apresenta como ferramenta primeira para transformar a realidade. O conhecimento do passado, dos erros e dos acertos, das teses, antíteses e sínteses, possibilita projeções do futuro, corresponde no poder do homem sobre o real. O desafio principal do empoderamento do homem sobre a história está nos mecanismos reformadores da ordem social. A dificuldade em encontrar a substância, e tomar consciência de todo a sua forma, está presente na luminescência do falso Apolo, o falso guia da humanidade, aquele que admira as estrelas e ignora as misérias do mundo material. A vida real está expressa na vida material, no tangível, no existente. A fome e a pobreza, a abundância e a fortuna, os excessos e as modéstias, o tudo e o nada, a dialética materialista despe o homem da cegueira idílica e nos remonta à frase do grego Píndaro: genói hoios essí.
Quando saímos do idealismo e nos deparamos com a triste realidade miserável, ou seja, quando nos tornamos aquilo que somos, apreciamos mais uma armadilha: o trabalho. Benéfico para uns e massacrante para outros tantos, vital para muitos e desprezível para alguns, o trabalho é ao mesmo tempo a máxima e a mínima expressão do homem no universo materialista. Quanto maior a produção e qualidade do trabalho do indivíduo, maior e melhor é a sua reputação. Mesmo que sonegue impostos, cometa adultério, espanque seus filhos, a sociedade há de dizer: Oh, como é honesto. O homem que não trabalha, cuida de deus filhos, sua esposa e sua horta, a sociedade há de dizer: Vagabundo! O trabalho, a priori, caracteriza e valoriza a espécie, o melhor dos homens é o que mais trabalhou em sua vida, o que morreu do trabalho, no trabalho: Santificai, oh senhor, tão bom homem, para que sirva de exemplo aos outros tantos que estão perdidos. Por fim, o trabalho se transforma em ídolo, um Hércules, protegido pela imaculada pele do Leão de Nemeia, um aspecto idealista. Somos novamente atraídos a olhar para as estrelas e ignorar o chão.
A realidade materialista e a idealista se contrapõem de maneira tão sublime que os frutos dessa colisão são elas mesmas, um eterno ciclo substancial e imaginário, divino e carnal, apolíneo e dionisíaco. O manto do irreal, ao mesmo tempo em que cega, protege o homem da frieza da existência. A nudez da realidade refresca e revigora o homem, lembra de seu propósito e daquilo que ele realmente é, um ser dialético, um eterno conflito entre duas forças. Forças que se usadas com sabedoria, engendram transformações úteis, de enriquecimento imaterial e de modificação estrutural da substância e da história. É preciso que olhemos para o horizonte, que avistemos as estrelas e as montanhas.   

Rafel Pedro - 1º ano Direito - Matutino 

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