Marx e Engels se destacaram, entre outros motivos, por
atribuírem um método inovador de interpretação da sociedade, estabelecendo uma
ciência baseada no socialismo e no que ficou conhecido como materialismo
dialético. Para tanto, propuseram a superação da filosofia de especulação sobre
o mundo, dando lugar à explicação deste estruturada pelo capital. Afinal, a
ciência só teria início com o fim da especulação. Nesse sentido, condenam uma
corrente de pensadores conhecidos como socialistas utópicos, segundo os quais o
socialismo é uma verdade absoluta a ser revelada, expressão da razão e justiça.
Esse voluntarismo para transformar a ordem seria uma utopia na medida em que
desconsidera a sistemática e a complexidade de uma sociedade capitalista na
qual os meios de produção determinam as relações sociais. Tais pensadores se
viam como homens iluminados e tomavam como base apenas a razão pensante, o que
impossibilita a noção do todo, das relações e da multiplicidade da dinâmica
social.
Contrapondo-se
a essa tendência, Marx e Engels desenvolveram o materialismo dialético, um
método científico que toma como base as condições históricas para explicar as
dinâmicas sociais e interpretar o mundo. Compreende-se, assim, o socialismo
como ciência ao situá-lo na realidade, o que explica a crítica marxista à
análise metafísica. Esse método procura decifrar as leis históricas e as
contradições inerentes do capitalismo, buscando a causa das coisas a partir da
experiência histórica. Dessa forma, entende-se que a evolução do conhecimento
fornece o embasamento para fundamentar as análises, as quais devem ser feitas sempre
através de uma visão do todo. Para compreender o desenvolvimento humano, sua
complexidade, seus avanços e retrocessos, é preciso adotar uma perspectiva que
analise as condições históricas e, com isso, interprete as transformações pelas
quais a sociedade passa constantemente.
O
método empregado por Marx e Engels pode ser aplicado em uma série de situações
da atualidade. Um discurso que ganha muita força é aquele que procura premiar
os indivíduos com base em seu mérito e competência própria. Sob uma perspectiva
meritocrata, é possível ilustrar o materialismo histórico através de um exemplo
prático: um jovem de 20 anos, branco, filho de um promotor de justiça e que
sempre teve tudo em abundância na vida e outro jovem de mesma idade, mas
nascido na periferia, que trabalha desde pequeno para ajudar a família. Se os
dois almejarem um cargo de juiz federal, é evidente que as chances de o
primeiro ser bem-sucedido é infinitamente maior que o segundo. Nesse sentido, a
meritocracia não pode atribuir ao que tiver maior “dedicação” e “empenho” o
merecimento. O materialismo histórico de Marx, nesse contexto, analisaria as
condições a que os dois foram submetidos ao longo de suas vidas, assim como as
oportunidades a que tiveram acesso. Afinal, situações como essa estão inseridas
em condições materiais que determinam a estrutura social e o futuro dos
indivíduos, sendo tais condições favoráveis aos detentores dos meios de
produção em uma sociedade capitalista.
De
maneira semelhante, o método do materialismo histórico pode ser aplicado em
julgamentos criminais. Um crime não pode, segundo a ideologia de Marx, ser
analisado isoladamente, visto que uma série de circunstâncias e aspectos devem
ser levados em conta para explicar o ato cometido. As condições históricas que
circundam um comportamento desse devem ser apreendidas para que a atitude seja
interpretada. Isso deve ser feito não com base na razão, mas no método do materialismo
dialético. O modo de produção na sociedade capitalista representa a base da
ordem social e se mostra responsável pelas transformações constantes às quais a
dinâmica social está submetida. Conclui-se, assim, a possibilidade de se
aplicar o método de Marx e Engels em problemáticas atuais, as quais demonstram
a presença de leis dinâmicas em constante transformação e a necessidade de
analisar os fenômenos a partir dos fatos existentes e das condições históricas.
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