Por muitos séculos, presente nas mais
variadas culturas, a intolerância, de diversas maneiras, silenciou indivíduos e
grupos considerados inferiores. Tais ideologias segregacionistas se baseavam em
dogmas e teorias metafísicos, os quais privilegiavam classes e estamentos
dominantes. Então, com o advento da modernidade e a disseminação da razão,
tendo René Descartes, em O
Discurso do Método, como pioneiro, a tendência seria que pensamentos não
fundamentados pela análise metodológica dos fatos fossem sucumbindo, ao passo
que a ciência norteasse a mentalidade vigente, uma vez que provasse a
insustentabilidade destes. No entanto, nota-se que a análise crítica das
coisas, como no método de Descartes, no qual deve-se rejeitar e julgar sem
pressupostos raciocínios que lhe haviam sido ensinados e inculcados pelo
exemplo e pelo hábito − principalmente aqueles que se voltam ao extremo −, tem
se perdido em meio à proliferação de discursos intolerantes, privados de bom
senso, que rejeitam a diversidade cuja importância foi corroborada por
Descartes como caminho à razão. Assim, a rápida disseminação de enunciados
alicerçados na discriminação e submissos a passionalidade explica-se pela
facilidade com que estes caem no senso comum, catalisados pela alienação,
passam a ser vociferados como absolutos, renunciando à ciência, à verdade e à
melhor qualidade que diferencia o homem dos animais: a razão. A humanidade
retrocede e o ser humano deixa de ser humano.
Henrique Mazzon - Direito Noturno
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