Pensador moderno formado em Direito,
Economia e Filosofia, Durkheim foi claramente influenciado pelo cientificismo
de sua época e logo nos propõe uma sociologia funcionalista. Desenvolvendo
diversos conceitos, é a partir de sua compreensão, que ele nos possibilita
entrever as distorções que impregnam e prejudicam o funcionamento do corpo
social.
Ele enxerga cada sociedade como um grande
organismo formado por teias de relações. São as relações, produto da interação
de dado grupo social, que desde o nascimento do indivíduo, trata de molda-lo e
o torna-lo reprodutor do conjunto de padrões engendrados pela cultura daquele
local, isto é, da consciência do grupo. Tais relações que dialogam entre si
constituem os denominados fatos sociais.
O fato social vincula o indivíduo ao
referencial de tal forma que qualquer distanciamento das regras praticadas pelo
grupo acarreta a coerção sobre a pessoa. A violência contra esta pessoa é
consequência da moral cerceadora da coletividade, que trata de reforçar seu poder
e limitar a autonomia individual – se o ser não age conforme os padrões de sua
sociedade, os fatos sociais o punirão, seja psicologicamente, fisicamente ou institucionalmente.
Em certos estágios do processo de
socialização já não há necessidade da presença física do grupo para impor a
coerção, a mente da pessoa se autoviolenta quando não reproduz os padrões. Os
transtornos alimentares como bulimia e aneroxia são claros exemplos de fatos
sociais patológicos, nos quais pessoas, a partir do que é transmitido e imposto
pelos meios de comunicação – uma normatização distorcida do corpo humano - passam
a se enxergar fora dos padrões estéticos determinados e com isso negam a si o
prazer de uma alimentação adequada para se submeter a visão idealizada de corpo.
O
Direito materializa as regras sociais padrão da consciência coletiva, e ao exercer
formalmente uma punição aos entes que as violam, cria uma forte coesão social, e
assim se constituindo como, talvez, o mais importante dos fatos sociais. Como o
fato social visa uma conservação da dinâmica social, logo, o direito não se põe
a alterar o que não afeta o equilíbrio social.
Os diversos casos de linchamentos públicos
de jovens negros suspeitos de cometerem crimes, ocorridos ao redor das regiões do
Brasil em 2014, expuseram um sentimento autônomo de fazer justiça com as
próprias mãos, contraposto alguns preceitos que constituem a ciência jurídica –
a garantia de segurança pública como dever do Estado e o respeito aos direitos
humanos como uma atitude cidadã – e refletiram, destarte, o reforço de uma consciência
dos chamados “cidadãos de bem”, e em último caso, a criação de uma nova normatividade,
tão logo, expressão anômica dentro da sociedade brasileira.
Esta
situação não é de certa surpresa. Ela se deriva de uma consciência, elitista e
segregatória, praticada e que organiza a sociedade brasileira desde muito tempo. A população negra, maior parcela do povo
brasileiro, continua sendo explorada seja pela falta de oportunidades que não
tem acesso cotidianamente se comparada ao contingente branco, seja pelas
violências praticadas em decorrência da doutrina neocolonialista instalada com a
colonização portuguesa em solo nacional. Ser negro e pobre, é no Brasil,
símbolo de ser propício ao crime. Não se estranha que esse pensamento seja
majoritário entre a classe branca e burguesa. As estatísticas demonstram grande número de jovens
negros aderindo ao crime como atalho a uma ascensão econômica e meio de ajudar
em casa suas famílias, em detrimento de um emprego formal, muitas vezes
precário e de baixa remuneração. A tudo isso ainda se soma o consumismo pregado
na mídia que os afeta– a exclusão face a compra de artigos de marca em relação
a grande massa usuária dele aumenta ainda mais o desejo de tais produtos pela
classe negra.
A materialização
parcial da dignidade humana de negros em pouco afeta o corpo social. Há um desprezo do próprio dito Estado de
Direito, que se realiza nas diversas violências praticadas contra negros: são
eles os mais perseguidos e mortos nas patrulhas policiais, têm suas tradições
culturais e religiosas desrespeitadas, são precárias as políticas públicas
desenvolvidas para lhe darem moradia, saúde e educação.
Para
Durkheim, em sumo, é a consciência coletiva que garante os elos de solidariedade
e solidez de uma sociedade. Por isso, faz-se necessária, a prática de uma
educação cotidiana livre de preconceitos e dos valores do capital, fator
essencial para possibilitar a transformação dessa consciência a fim de que toda
a humanidade possa regozijar-se em uma existência digna e plena.Aula 5. Direito Noturno. João Victor Ruiz.
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