Com a atuação da
máquina, a força muscular humana deixa de ser essencial e passa a ser
supérflua. Adentram nas indústrias aqueles com capacidade física inferior - no
quesito “força”-, mas com maior flexibilidade. Ou seja, o uso do trabalho
feminino e infantil, sem distinção de idade ou sexo. Assim, a família do
trabalhador também começa a fazer parte da linha de produção industrial.
Aumenta-se a quantidade de assalariados, com o domínio direto do capital.
Num primeiro momento, o
valor da força de trabalho era estabelecido pela necessidade de sobrevivência
do trabalhador e de sua família. Mais tarde, porém, com todos os membros
familiares dentro das fábricas, desvaloriza-se a força de trabalho do homem,
que passa a ser repartida entre a família. Isso faz com que, para o explorador,
aumente a quantidade de jornadas disponíveis, enquanto o valor da força de
trabalho despenca na proporção em que se eleva o trabalho excedente. Ao ampliar
o material humano, a máquina eleva o seu grau de exploração.
O contrato entre o
capitalista e o explorado é renovado, pois embora o primeiro continue a
fornecer os meios de produção, o último passa a entregar não somente sua força
de trabalho, mas também a vender incapazes e parcialmente incapazes, pela visão
normativa do direito. Pode-se então concluir que o trabalhador torna-se
traficante de escravos, por vender seus filhos e esposa.
Embora na época
existisse a lei fabril de limitação de 6 horas de trabalho para meninos com
idade inferior a 13 anos - com atestado de idade qualificado por um médico -, eram
frequentes os casos de crianças dessa faixa etária que acabavam dentro das
fábricas por meio de atestados falsos, os quais satisfaziam a ambição do
capitalista dominante.
Relata-se ainda a degradação
física dos jovens, além de elevada taxa de mortalidade dos filhos dos
trabalhadores em seus primeiros anos de vida. Isso resultava, principalmente,
da ausência materna dentro de casa, a qual desencadeava na referida taxa de
mortalidade, tendo em vista que as crianças mal cuidadas e abandonadas não
recebiam a alimentação adequada e a atenção necessária.
Dentre todas as formas
de sofrimento e degradação, a mais marcante para essas famílias era a moral. As
crianças eram obliteradas intelectualmente através da coisificação de suas vidas,
o que implicava numa deterioração da vida escolar e educativa, pois nem os
próprios professores tinham capacidade para ensinar.
Por fim, o próprio Karl
Marx fecha afirmando que “com o afluxo
predominante de crianças e mulheres na formação do pessoal de trabalho
combinado, quebra a maquinaria finalmente a resistência que o trabalhador
masculino opunha na manufatura, ao despotismo do capital”.
Trazendo essa
configuração capitalista do momento em que Karl Marx escreveu para a nossa
realidade do século XXI é possível perceber claramente os traços desse sistema
exploratório, mesmo porque ainda vivemos o capitalismo. Assim, temos que nas
famílias da classe dominante os filhos representam gastos a mais, enquanto que
naquelas de inclinação mais humilde eles significam mão de obra extra para
garantir o sustento da entidade familiar. Desse modo muitos jovens ingressam no
trabalho cada vez mais cedo- em situações raramente dignas- e acabam por
abandonar os estudos perpetuando, portanto, o esvaziamento intelectual relatado
por Marx.
- Iara da Silva, Elisa Néri Ribeiro de Carvalho Romero Rodrigues, Monyele Beretta Martins, Iris Acácia Crusca, Maria Beatriz Cadamuro Mimo, Nathália Melazi Caobianco - Direito Noturno
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