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segunda-feira, 20 de junho de 2011

Ver o todo para haver futuro

O filme "Ponto de Mutação" é baseado na obra de mesmo título de Fritjof Capra, físico teórico que popularizou a chamada "Teoria dos Sistemas".
A discussão principal parte da visão cartesiana (principalmente do método científico de René Descartes) e sua influência na ciência e na sociedade. Em seu livro anterior, "O tal da física", Capra analisa proximidades entre a ciência ocidental e o misticismo oriental. Seu insight ocorreu numa praia, onde diz ter passado a perceber na prática toda a teoria física que detinha. Defende maior interdisciplinaridade na construção do conhecimento científico para acabar com a alienação intelectual.
Em "Ponto de mutação", a discussão parte da visão científica de Descartes para o caos político contemporâneo. O método cartesiano (de divisão até a menor parte possível para maior compreensão) aumenta conhecimento técnico, mas dilui a visão do todo e de longo prazo.
A consequência disso é a deturpação do conhecimento, não só pelo modo de produção capitalista, mas também pela ausência de consciência coletiva na formação das pessoas. A ciência serve ao desenvolvimento econômico mais que ao desenvolvimento humano. Os indivíduos pensam mais no presente que no futuro.
Para Capra, a ciência (e consequentemente o mundo) perdeu um aspecto importante da visão de Francis Bacon: o homem deve agregar conhecimento e gerar tecnologias em função da melhoria da qualidade de vida. O conhecimento nos deve ser útil. No filme, a física "aposentada" Sonia comenta sobre tribos indígenas da América do Norte que pensavam sempre na sétima geração depois da sua para realizar qualquer ato. Essa compreensão de sociedade e de futuro aponta um caminho mais seguro para o desenvolvimento.
No mundo contemporâneo, falar sobre a Teoria dos Sistemas parece inviável. Hoje a organização e o funcionamento do mundo já são muito diferentes de quando Capra escreveu seus livros (mais de 20 anos atrás). Já não se distingue o que é vontade do sistema econômico do que é vontade humana, nem o que é coletivo do que é individual. As fronteiras são cada vez menos identificáveis e a proposta de sustentabilidade se confronta com o desejo insaciável - tanto da economia quanto das pessoas - de crescimento e o que aparenta ser evolução.
A proposta defendida por Capra requer simplesmente que aceitemos o desenvolvimento refreado e sustentável da ciência e da sociedade. É muito simplista reduzir todos os problemas contemporâneos à pergunta: "De que adianta o progresso econômico e tecnológico se não houver mais planeta para os desenvolver?". As instituições criadas pela sociedade excedem a realidade social. Não se muda um modo de produção instantaneamente. Mas a sustentabilidade ainda é encarada como abstração. E a resposta àquela pergunta será sempre a mesma: adianta de nada. É preciso que aprendamos que o planeta é um só e também nós, humanos, somos parte de seu sistema, e que não é preciso ferir a individualidade para garantir o bem coletivo. Para desenvolver conhecimento, tecnologias e conforto, não se precisa destruir o meio.

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