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sexta-feira, 29 de abril de 2011

Mãos, cérebro, coração, bile.

Mãos, cérebro, coração, bile. Assim como no corpo humano, cada indivíduo possui funções a serem exercidas no organismo chamado " sociedade ". Alguns são operários, outros médicos e há também empresários, células cujo papel desempenhado é imprescindível na manutenção do corpo social, segundo o Positivismo. Células estas que devem ser "saudáveis", "educadas", " bem alimentadas".

O espírito de competição, característico do modelo capitalista, não tem espaço no pensamento de Augusto Comte: todos devem permanecer exatamente em seus lugares, cumprindo suas respectivas funções, sem almejar categorias "superiores" (visto que todas têm o mesmo grau de importância). Comodismo? Inércia? Não, apenas garantia da ordem para que o progresso seja alcançado. Porém, não um progresso como entendemos hoje ( individual, egoísta), mas sim sinônimo de bem público, ou seja, a verdadeira felicidade. Será que pensamos assim enquanto somos bombardeados com ideias de teor individualista e competitivo? Vemos nas ruas, casas, praças a solidariedade ou tropeçamos nas "misérias sociais" como intitula Comte?Não queremos ser coração quando nos vêem apenas bile?

O trabalho é concebido pelo Positivismo de maneira bem distinta do próprio sentido que o termo carrega (do latim tripallium = dor, sofrimento), sendo visto como "...uma doce diversão habitual..." para Comte. Ele deve ser motivo de orgulho e por meio do conhecimento uno (sem o isolamento da Ciência) cada indivíduo pode compreender sua importância no âmbito social. E nós? "Divertimo-nos" ou nos deixamos consumir pouco a pouco na realização de nossas tarefas sem entendermos quais sementes germinarão com o suor do nosso rosto? Ou melhor, sabemos quem somos verdadeiramente ou simplesmente perdemos a singularidade misturando-nos ao todo?

Em nossos dias, as palavras se avolumam, os dogmas religiosos crescem e, perdidos desde o contexto em que Comte escreve, em meio à metafísica e à teologia esquecemos de observar a realidade que se debruça sobre nós. Apenas ouvimos os gemidos de um corpo (do qual fazemos parte) que não mais anda, arrasta-se.

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