Paralelo
à ampliação do acesso populacional a informações, o advento de diversos
impasses contemporâneos, como a difusão de epidemias, o crescimento de guerras
e conflitos étnicos, o avanço de movimentos negacionistas e a ascensão de governos
de extrema-direita ao longo do globo, induzem à percepção de que o mundo
hodierno se encontra em uma aparente situação desordenada. Todavia, baseando-se
na lógica da imaginação sociológica, preconizada pelo sociólogo Charles Wright
Mills, isto é, analisando esse contexto a partir de uma perspectiva coletiva e
social, e não através de suas particularidades, observa-se que essa aparência
caótica se constitui uma percepção equivocada, posto que a compreensão da
gênese de tais adversidades permite a conclusão de que a modernidade, na
verdade, se atém cada vez mais a uma ordem individualista, oposta à concepção
sociológica citada.
Seguindo
esse raciocínio, convém comprovar como os obstáculos vivenciados pela
comunidade global atual se relacionam diretamente ao avanço do individualismo.
Nesse sentido, em termos práticos, embora a conduta, os comportamentos e as
perturbações particulares do indivíduo têm como agente o próprio ser, não é
possível dissociar tais questões do contexto coletivo no qual ele está
inserido, posto que, ainda de acordo como o sociólogo supracitado, as atitudes
particulares estão intimamente relacionadas às características desse contexto.
A própria mentalidade do indivíduo, conforme propõe Francis Bacon, pauta-se em
pré-noções, internalizadas no mesmo através da influência do meio social.
Todavia, observa-se uma hodierna tendência na sociedade de negação da
coletividade, em detrimento de seus interesses particulares, colocando a
individualidade acima da promoção do bem comum.
Como
consequência, emerge-se um processo gradual de subversão do conceito de
sociedade como um coletivo de indivíduos inter-relacionados. Essa mudança
resulta em manifestações de aversão à diversidade, ao se observar o crescimento
de casos de discriminação em termos raciais, culturais, econômicos e sociais, e
a ascensão de governos que normalizam tais formas de preconceito. Ademais, nesse
corpo social individualista, questões como a saúde pública, assistencialismo
governamental, combate à pobreza e à desigualdade, e outros fatores importantes
para a promoção de uma comunidade global harmônica e igualitária, acabam sendo suprimidos,
dado que ultrapassam a esfera particular, o que culmina nas adversidades
inicialmente citadas.
Portanto,
os diversos impasses que se disseminam na contemporaneidade estão intimamente
relacionados ao avanço de uma ordem individualista no tecido social
global, a qual se opõe à perspectiva da imaginação sociológica. É nesse
contexto que o abandono dos paradigmas pré-estabelecidos em favor do apelo à
racionalidade, como proposto por Descartes, se constituiria um passo fundamental
para a superação da valorização exacerbada do “eu”, a fim de promover uma sociedade
solidária, que tenha o bem coletivo como pilar indispensável ao seu
funcionamento.
Eduardo Garcia da Silva
RA: 231220324
1° Ano – Direito Noturno
Nenhum comentário:
Postar um comentário