“Tudo o que é desordem, revolta e caos me interessa; e particularmente
as atividades que parecem não ter nenhum sentido. Talvez sejam o caminho para a
liberdade. A rebelião externa é o único modo de realizar a libertação interior”
Jim Morrison
No dia 28/08 houve uma
manifestação na UNESP Franca, na qual o descendente da família real Dom
Bertrand de Orleans e Bragança, o qual se o Brasil fosse uma monarquia seria o
príncipe, foi desrespeitado. Isso é fato que repercutiu na mídia, mas o
principal não é ele em si e sim as razões que motivaram o grupo de estudantes a
agir daquela forma.
Primeiro, dentre as
razões que motivaram estão falas de Bertrand como a presente em seu blog : “Alerta para os efeitos deletérios da
Reforma Agrária e dos movimentos ditos sociais, que querem afastar o Brasil dos
rumos benditos da Civilização Cristã, que seus antepassados tanto ajudaram a
construir no País, hoje assolado por uma revolução cultural de caráter
socialista.” Muito mais que uma cisão entre direita ou esquerda é preciso entender
que esse senhor tem uma visão completamente anacrônica, preconceituosa e é
preocupante no sentido que ainda lhe resta alguma influência, por isso o
movimento dos estudantes da UNESP foi relevante, porque deixou claro que em
nosso meio acadêmico não há espaço para formação de um antigo regime ultrapassado
e preconceituoso.Todavia a forma de expressar suas ideias foi realmente
equivocada e desrespeitosa. Era fundamental ter deixado o Bertrand falar e
contra-argumentar intelectualmente suas opiniões sobre a criminalização dos
movimentos sociais e tantas outras. E depois se houvesse a manifestação esta
seria legitimada.
Além disso, muitos contestam o movimento alegando o direto à liberdade
de expressão que Bertrand possui, entretanto esse valor não é absoluto, assim
como nenhum outro. Não se pode defender o estupro, por exemplo, e este senhor
defende concepções homofóbicas e almeja o fim dos movimentos sociais que lutam
para garantir os direitos constitucionais. Será que isso não justifica o coro
de 200 estudantes indignados pedindo sua retirada? Talvez não, mas como diria
Machado de Assis “A ocasião faz a revolução” e nesse caso a atitude dos
estudantes foi tomando proporções maiores daquela que eles tinham combinado no
Ato- Debate anterior a palestra.
Outro ponto relevante é
o segundo maior preceito da democracia que a presença de Bertrand na
universidade pública fere: a igualdade. Se há de fato uma igualdade formal no
Brasil, então não há espaço para um Estado de privilégios e é totalmente
irracional tratar por “príncipe” e “vossa alteza real” já que estamos em Estado
democrático de direito e todos merecemos tratamento idêntico pela lei. É
inegável que Bertrand faça parte da família de Dom Pedro, todavia isso não faz
com que este seja melhor que ninguém.
Por fim, a fraternidade
do movimento que é fácil de ser notada, pois antes da vinda de Bertrand para a
universidade os unespianos já se organizavam com reuniões, panfletagens e
escracho. A vinda de Bertrand foi positiva no sentido que fomentou o movimento
estudantil na faculdade e tirou boa parte dos alunos da apatia que estavam
inseridos.
Enfim, houve uma
manifestação que foi desrespeitosa, mas teve sim suas motivações que não podem
ser ignoradas (como foi por boa parte da mídia). Como diria Rosa Luxemburgo: "Quem não se movimenta, não
sente as correntes que o prendem."
Nenhum comentário:
Postar um comentário