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sábado, 30 de abril de 2011


Enfatizando o concreto

Logo após o fervilhão de idéias do século XVIII, Auguste Comte lança seu “Curso de Filosofia Positiva”. A obra lançada em 1830 nos introduz o conceito do positivismo, uma ideologia que trazia para si a responsabilidade de discutir o que era real, útil, certo, rompendo com muito do que era discutido no metafísico século das luzes.
Comte apresenta a evolução do pensamento humano sob uma nova perspectiva. Ele divide o pensamento em três estados históricos diferentes: o teológico ou fictício, o metafísico ou abstrato, e por fim o científico ou positivo.
No estado teológico, que Comte define como “ponto de partida necessário da inteligência humana”, Deus era tido como o elemento que informava todas as instâncias da vida, no metafísico, que seria um estado transitório para se chegar ao positivo, evolui-se para uma concepção na qual o homem seria capaz de racionalizar sua imaginação. O ápice é finalmente atingido quando o homem se torna capaz observar o concreto e interpretá-lo, rompendo com os dois estágios anteriores. Só assim se alcança verdadeiramento o estado final, fixo e definitivo: o positivismo.
O autor nos diz em sua obra que diversos ramos do conhecimento já se utilizavam do positivismo, entre eles a astronomia, física, química e fisiologia, mas que faltava, no entanto, um ramo dedicar-se a ele: o dos fenômenos sociais. Por isso havia uma grande necessidade de se criar a “física social”, ou seja, a análise dos fenômenos sociais, evoluída até o estágio positivo. Seria essa a “maior e mais urgente necessidade de nossa inteligência”, já que somente após o estabelecimento da física social, a filosofia positiva poderia substituir inteiramente, a teológica e a metafísica.
A física social é definida como parte da física orgânica, já que os fenômenos sociais sofrem influência da fisiologia do indivíduo, e para entendê-la, deve haver um conhecimento prévio das demais ciências, pois a compreensão dos fenômenos se dá dos mais gerais, aos mais complexos.
O positivismo mostra-se anti-socialista e anti-liberal. Comte acreditava que cada classe reproduzia seus próprios membros, e que era necessário manter as pessoas em seus lugares sociais para que houvesse progresso. A mobilidade social como reivindicação permanente seria, então, a principal responsável por imobilizar o progresso, pois todas as funções são necessárias ao sucesso do todo. A ordem era essencial, a sociologia para o autor, serviria para diagnosticar os desvios da ordem.
Auguste Comte cita Descartes e Bacon em sua obra, como precursores da filosofia positiva, como contribuintes ao amadurecimento do espírito humano. Bacon é mais frequentemente citado, já que seu método consistia na observação dos fatos para se alcançar um conhecimento real, máxima que Comte julgava incontestável. No entanto, o autor complementa Bacon dizendo que para entregar-se à observação seria necessária uma teoria qualquer, e que essa teoria não poderia ser confirmada na infantilidade em que se encontrava o espírito humano, daí a importância da evolução ao estado positivo.
É dada importância à teoria por ela oferecer a reflexão necessária para prover a técnica sendo que dessa relação resulta o poder de transformar a natureza. Comte distingue a ciência (reflexão) da técnica (arte, ação, aplicação). A classe dos engenheiros pode ser considerada intermediária, ela faz a ligação entre a ciência e a técnica.
Há quatro propriedades fundamentais na proposta positivista:
- o vislumbramento das leis gerais da sociedade e conhecimento das regras gerais convenientes para proceder de modo seguro na investigação da verdade
- reforma da educação para romper com o isolamento das ciências
- a filosofia positiva teria que exigir a combinação do conjunto de concepções positivas sobre todas as grandes classes de fenômenos naturais
- a filosofia teria que servir de base à reorganização social da sociedade moderna
Comte entende que o problema da sociedade moderna seria a anarquia intelectual, causada pela convivência das três filosofias, sendo que o positivismo seria capaz de por fim à agitação política com uma reforma das mentalidades. Essa reforma se daria por meio de uma educação positiva universal, diferente daquela concebida como se cada pessoa devesse se preparar para uma única profissão exclusiva. A visão de conjunto funciona como a base da sabedoria humana, sabedoria esta tanto ativa (ofícios diversos) quanto especulativa (atividade científica)
A instrução, segundo Comte deveria ser estendida à classe trabalhadora, já que é ela a que menos sentiu a influência do ensino metafísico, e por isso está mais aberta ao ensino positivo. Além disso, a instrução seria melhor percebida entre os operadores que entre os empreendedores, pois o trabalho dos operadores tem “fim mais nitidamente determinado, resultados mais próximos e condições mais imperiosas”, além disso, eles têm um contato mais direto com a natureza.
Depois de alcançarem o saber, a classe trabalhadora o utilizaria como uma forma de lazer, pois o saber metafísico alia-se por sua natureza a todos os trabalhos práticos, tendendo ,assim, a inspirar um certo gosto por ele. Esse lazer iria afastar a classe trabalhadora da anarquia e das ambições materiais, reforçar o gosto pelo trabalho prático, rompendo com a perspectiva de participação da classe trabalhadora no poder politico, que não seria necessária, pois os destinados a participar do poder politico teriam a exigência de cumprir os deveres essenciais a eles destinados.
Comte discorre ainda sobre o papel do catolicismo. Ele o considera importante no que diz respeito à universalização da moral, mas a moral religiosa seria também contrária à essência da vida moderna, pois enquanto na moral católica o objetivo é a salvação pessoal, na visao positiva a sociedade tem um papel à frente do do indivíduo.
Aparecem muito fortes na visao positivista, a solidariedade e a felicidade, por estarem associadas ao bem público. O bem público deve se colocar sempre acima do bem de cada um, o “eu” só existe no positivismo pelo papel que ele desempenha no conjunto. Assim é formada uma moral humana, pois combina a inteligência à sociabilidade.
Dessa forma, Comte nos introduz uma nova ciência, a física da sociedade, que deveria ser estudada, para se livrar do teológico e do metafísico restante entre nós, e conseguir assim uma melhoria concreta da vida social.

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