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quinta-feira, 3 de abril de 2025

O Caos Invisível: Negacionismo e a Desordem que Ameaçam Nosso Futuro

   O conceito de "fim do mundo" tem sido explorado de diversas formas ao longo da história. De uma perspectiva apocalíptica, é fácil se deixar levar pela sensação de que a humanidade está caminhando para um colapso irreversível, especialmente quando olhamos para as crises globais que enfrentamos hoje: o agravamento da mudança climática, as falhas no controle de pandemias, a ascensão de movimentos negacionistas e a erosão das instituições democráticas. Mas, ao refletirmos sobre o tema, surge uma pergunta crucial: estamos de fato no fim do mundo, ou é o mundo que está simplesmente fora de ordem? Essa questão nos leva a repensar o papel das forças humanas que, mais do que causar o fim, são responsáveis por desorganizar as estruturas que sustentam a convivência pacífica e a estabilidade global.

O negacionismo climático é um dos principais agentes de destruição da ordem no mundo atual. A ciência é clara: o planeta está aquecendo, os ecossistemas estão sendo devastados e os desastres naturais, como furacões, incêndios e secas, estão se tornando mais frequentes. No entanto, figuras políticas e ideológicas, como o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, durante seu mandato, e outros líderes ao redor do mundo, negaram os fatos e o consenso científico sobre a mudança climática. Isso não apenas impede que medidas eficazes sejam tomadas, mas também cria um ambiente de desinformação, onde as soluções para problemas ambientais urgentes são adiadas ou ignoradas. O negacionismo climático, portanto, pode ser visto como um reflexo de um mundo fora de ordem — não porque a natureza esteja prestes a "terminar", mas porque a ordem política e social, ao se distanciar da verdade científica, se torna incapaz de resolver uma crise iminente. O mundo não está acabado, mas está desorganizado pela recusa em lidar com as evidências e as necessidades globais.

Outro exemplo de um mundo fora de ordem é a crise sanitária global que a pandemia de COVID-19 revelou. O coronavírus causou uma pandemia mundial que expôs a fragilidade das nossas instituições e a polarização social em torno de medidas de saúde pública. A resposta global à crise foi marcada por desinformação, resistência a medidas como o uso de máscaras e vacinação, e a disseminação de teorias da conspiração. A negação da gravidade da pandemia, alimentada por líderes políticos como o ex-presidente Jair Bolsonaro, não apenas prolongou a crise, mas também aprofundou divisões dentro das sociedades. Nesse contexto, a ideia de que o mundo está "acabando" surge de uma falha nas estruturas de governança e de confiança pública. Quando o conhecimento científico é descartado e as políticas públicas são enfraquecidas por disputas ideológicas, não é o mundo em si que entra em colapso, mas a ordem das instituições que deveriam garantir a proteção e o bem-estar da população. O fim do mundo não é físico, mas institucional, um reflexo da incapacidade de organizar respostas eficazes diante de crises globais.

Além dos desafios ambientais e de saúde, o negacionismo também se manifesta em uma rejeição da história e dos avanços sociais conquistados ao longo dos séculos. O revisionismo histórico, que busca apagar ou distorcer eventos como o Holocausto ou a escravidão, é uma expressão clara de como o mundo está fora de ordem. Esses movimentos não buscam apenas apagar o passado, mas também enfraquecer os direitos conquistados por minorias e grupos historicamente oprimidos. A ideia de que estamos em um "fim do mundo" se fortalece quando as conquistas sociais — como os direitos civis, os direitos das mulheres, e os direitos LGBTQIA+ — são desafiadas por forças políticas que desejam reverter esses avanços.

Nesse cenário, a ordem que deveria existir em torno dos direitos humanos e da justiça social está sendo destruída, criando um ambiente de insegurança e medo. A negação do progresso social, alimentada por discursos extremistas e polarizadores, coloca em risco as bases das sociedades democráticas, levando a uma sensação de que a civilização está à beira de um retrocesso irreversível. Mais uma vez, o mundo não está chegando ao fim, mas a ordem social e política está sendo desmantelada por aqueles que buscam minar os princípios de igualdade e dignidade humana.

Ademais, o negacionismo político e a desinformação estão desafiando as bases das democracias em vários países. No caso dos Estados Unidos, a recusa de Donald Trump e de seus apoiadores em aceitar os resultados das eleições de 2020 resultou em um ataque ao Capitólio, um episódio que expôs a fragilidade do sistema democrático americano. Em outros países, como o Brasil, movimentos políticos negacionistas questionam a legitimidade do sistema eleitoral e buscam enfraquecer as instituições que sustentam a democracia. Esses ataques às democracias não são, na verdade, um sinal de que o "mundo está acabando", mas de que a ordem política está sendo corroída. A rejeição ao Estado de direito, ao processo eleitoral e à independência dos tribunais indica uma desordem dentro das próprias estruturas governamentais, minando a confiança nas instituições e criando um clima de polarização e violência.

Diante de todos esses fatores — negacionismo climático, falhas nas respostas a crises sanitárias, distorção da história e da política — a questão central não é se estamos no fim do mundo, mas se a ordem está sendo desfeita de dentro para fora. O mundo continua a existir, mas a ordem que deveria garantir a paz, a justiça e a sustentabilidade está sendo desmontada por forças que se recusam a aceitar a realidade. O negacionismo, seja ambiental, sanitário, político ou histórico, é um sintoma dessa desordem, e não o fator que causa o fim do mundo em si.

A grande questão é: como responder a esse caos crescente? Será que podemos restaurar a ordem nas nossas instituições e políticas públicas, ou continuaremos a trilhar um caminho de destruição, negando as evidências e alimentando um ciclo de crises irreversíveis? O mundo não está acabando, mas a ordem, essa sim, está fora de controle. E cabe a nós decidir se conseguiremos restaurá-la antes que os danos se tornem irreparáveis.


Laura Gomes Valente - 1º ano Direito Matutino

3 comentários:

  1. Talvez, Laura, o restabelecimento de estágios sociais mais razoáveis e menos caóticos passe pela vontade de as pessoas, singularmente, unirem-se mais umas às outras, com o propósito genuíno de construírem obra coletiva. Não há milagres. Como dizia o poeta, "um sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só. Mas o sonho que se sonha junto é ...". Complete o verso. Um abraço, Alexandre.

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  2. "...realidade." Ao longo do tempo, para mim, ela passa a fazer cada vez mais sentido. O verso de Raul Seixas pode ser interpretado como uma metáfora para a força da união e o poder da coletividade na realização de mudanças significativas. Sonhos individuais podem ser valiosos, mas é na ação coletiva, no esforço conjunto, que se torna possível criar uma realidade transformadora, mais equilibrada e harmoniosa para todos. Um abraço, Laura.

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  3. Exatamente, Laura. Obrigado pela interlocução. Com respeito, Alexandre.

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