"Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais, braços dados ou não"
Ascendo em uma marcha contínua. A proposição de uma ideia de união, a caminhada sem destino certo em nome de salvar uma nação. Desertores e subversivos, é assim que nos enxergam, mas somos apenas estudantes cansados dessa moral de indecências. Queremos fazer a diferença em um período de tamanhas incertezas. Com o medo aceso em meu coração, permito-me apertar mais os punhos, sentindo com mais certeza o cravo em minhas mãos. Olho ao redor, somos os Cem Mil, estamos em 1968.
Estamos todos assustados, não há segurança nenhuma aqui. Os bordões que escoam pelas ruas ao redor do mundo não obtêm o mesmo timbre em solo brasileiro. Resistir tornou-se uma questão de sobrevivência para o movimento estudantil. Implementar a marcha da paz em contraponto ao solado militar. Há uma barreira contra nós, não há espaços para debates. Para eles, somos como um vulcão em erupção prestes a romper com Pompéia.
"Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição
De morrer pela pátria e viver sem razão"
Há uma ordem em andamento, o exército já nos cerceia. Prometeram-nos esse espaço para um resquício de expressão, mas eram apenas falácias comparadas com os bastões. Sou obrigada a apertar mais uma vez o cravo em minha mão. Tento não me imaginar como o novo rosto de Édson Luis de Lima Souto, numa sexta feira próximo ao Calabouço. Deturpadores do progresso, desordeiros sem função; é assim que nos enxergam, como se não compreendêssemos seu projeto de nação. Estamos vivendo em um país de pensamentos retardatários que acredita ter um futuro promissor mantendo ideais retrógrados.
"A certeza na frente, a história na mão
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Aprendendo e ensinando uma nova lição"
Continuamos caminhando em contrário à marcha da opressão. Olhares determinados entoando o nosso diferenciado lema de união. Carregamos a paz torcendo para que um dia ela seja o futuro da nação. Pertencedores desse país que não querem deixar como legado a violência do capitão. O respeito à ordem não equivale aos sumiços e extinções. Um Brasil de todos não deveria ter sangue escorrendo pelas mãos. A desigualdade rodeando solta, mas não se pode falar disso, não.
Persisto na luta por uma justiça decente, desgrudada dessa ideia de moral cristã inerente. Busco instituir a paz e o amor, não posso desistir da melhora verdadeira de minha nação. Vivo por dias melhores, dias de desmilitarização. Anseio por mudanças de mentalidade que retirem o projeto social de nosso brasão; destituam o Ordem e Progresso da bandeira nacional. Enquanto esse positivismo incansável puder ser ouvido na voz do capitão, serei obrigada a entoar os versos dessa canção:
"Pelas ruas marchando indecisos cordões
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão
E acreditam nas flores vencendo o canhão"
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