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domingo, 3 de abril de 2022

O método cartesiano e baconiano e a desinformação

O método cartesiano e baconiano e a desinformação


O conhecimento e a curiosidade sobre a natureza das coisas, desde as sociedades primitivas, foram de interesse do homem, que buscava explicações de diversas formas, seja na religião ou na ciência. Assim, na Idade Moderna, com a influência e o estudo do conhecimento greco-romano e a ascensão da camada burguesa, refletiu-se muito sobre a forma como o homem assimila e desenvolve o conhecimento e sua legitimidade. Nesse contexto, destacam-se os filósofos Francis Bacon e René Descartes, que propuseram caminhos para ter certeza acerca da veracidade de uma informação. Contudo, esses caminhos não são necessariamente considerados para a compreensão da realidade contemporânea.

Para Descartes, a filosofia, até sua época, tinha bases fúteis e incertas e o conhecimento que fora construído a partir dela era também algo pouco consolidado. Diante de tantas incertezas, a dúvida deveria ser o meio para adquirir o conhecimento, logo, torna-se a base do método científico na ótica cartesiana, assim, a veracidade de tudo deveria ser questionada para se ter. Dessa forma, as coisas podem ser tidas como verídicas só se forem fatos claros e distintos, sem motivos de dúvida. E, para a análise das coisas que não são claras, deve-se dividi-las o máximo o possível para resolvê-las melhor, partindo do estudo das questões mais simples para as mais complexas, e, em todo caso, fazer um estudo amplo e íntegro, que não deixasse quaisquer dúvidas remanescentes. Sua elaboração, o método científico cartesiano, deveria ser seguido de maneira racional, objetiva e sem influências pessoais, para que a natureza seja compreendida e a ciência, desenvolvida de forma prática pela raça humana ao longo do tempo.

Em contraste, Bacon não reconhecia grandes contribuições na filosofia tradicional e grega antiga para o homem, além de criticar o método científico por sua dificuldade de implementação pela incerteza das coisas e por ser simplesmente um exercício da mente. Assim, propõe um novo método, no qual os mecanismos da experiência determinam a mente, chamado de "cura da mente", em contraste com a percepção de Descartes que prioriza a razão à experiência. Além disso, o filósofo valoriza as antecipações da mente sobre a interpretação, por elas serem mais objetivas e base para o senso comum, então mais facilmente admitidas do que as percepções falsas que temos sobre o mundo que são, para Bacon, de quatro tipos e origens diferentes e chamadas de ídolos. Dessa forma, como a filosofia tradicional não é útil para o homem, deve-se desenvolver uma ciência empírica proveitosa para o domínio progressivo da natureza, para possibilitar inovações constantes com origem na mente humana, sem influências dos ídolos. 

Apesar de ambas as visões dos filósofos, mesmo que divergentes, retratarem caminhos possíveis para a assimilação do conhecimento, contemporaneamente, é comum que seus métodos sejam ignorados e informações falsas, como as fake news, amplamente divulgadas. Entre elas, pode-se citar o incentivo ao uso da hidroxicloroquina como método de prevenção ao coronavírus, mesmo sem confirmação científica de efetividade, por figuras como o Presidente Jair Bolsonaro. Nesse caso, muitas pessoas tomaram o medicamento sem que a dúvida de sua efetividade tivesse sido extinta como sugeria Descartes e sem buscar se livrar dos ídolos como recomendava Bacon. Portanto, mesmo com meios claros, seja por experiência ou razão, de ter um conhecimento, as pessoas tendem à desinformação por influências pessoais e dos ídolos sem ter consciência da invalidade das coisas que acreditam por não as questionarem. Assim, independentemente de qual dos caminhos, de Descartes ou de Bacon, é melhor de seguir para se conhecer algo de fato, a maioria das pessoas não analisa informações para assimilá-las.


Luiza Polo Rosario - 1º ano matutino

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