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domingo, 3 de abril de 2022

A negação de um óbvio à luz de Bacon.


 O ser humano costuma gabar-se por ser “mais que um mero animal”, ou até nega ser um animal e afirma ser algo além disso, tudo graças ao fato de ser capaz de utilizar o cérebro de uma forma que nenhuma outra espécie, por ele (ser humano) conhecida, consegue. O ser humano se auto-intitula um ser racional, capaz de usar a razão e a lógica para interpretar, supostamente, o mundo de uma forma melhor do que os outros seres da natureza, porém, é extremamente complicado fazer tal afirmação considerando que um ser que se diz mais inteligente que os demais seja incapaz de enxergar (ou mesmo que enxergue, prefira negar) problemas tão evidentes e que lhe afetam diretamente, como é o caso do aquecimento global.

 Segundo o livro Novum Organum, ou, verdadeiras indicações acerca da interpretação da natureza (1620) de Francis Bacon, o ser humano faz uso de seus sentidos para tentar compreender a Natureza, tomando como verdade tudo aquilo que apreendem de seus sentidos em conjunto do seu intelecto. Para Bacon, o uso dos sentidos como forma de compreensão da natureza é algo extremamente suscetível a erros grotescos, pois, para ele, a natureza é muito mais complexa do que a capacidade humana de percepção por meio dos sentidos, e além disso o próprio intelecto humano (pelo qual os seres humanos tanto se gabam em ter) é facilmente suscetível a errar, pois o cérebro humano é sujeito a inúmeras influência que, para Bacon, obstruem a obtenção de algo mais próximo do que de fato seria verdade (um axioma de fato sobre a natureza), como as emoções, os vieses, as idealizações tanto de pessoas como de conceitos e inúmeros outros aspectos que turvam o ser humano de fazer constatações de fato verdadeiras, opinião essa que baseia-se na concepção de que o ser humano se engana ao confiar cegamente em si mesmo (tanto em sua mente quanto em seus sentidos), pois o ser humano só alcançaria algo mais próximo da verdade de fato se fosse capaz de abstrair-se dessas influências que acabam turvando um maior entendimento sobre as coisas, algo que apesar de polêmico diz muito sobre como a humanidade vem encarando uma série de questões, como no caso do aquecimento global.

 Todavia, é válido ressaltar que o problema do aquecimento global, que além de sério, e óbvio, também ameaça diretamente a própria existência da espécie humana no planeta Terra, não vem sendo encarado com a seriedade adequada pela maioria da humanidade, que prefere encará-lo como um problema distante que não lhe afeta (se eximindo, assim, da responsabilidade de fazer algo á respeito), ou que prefere negar sua existência (forma desesperada de admitir que o problema é tão mais complexo que a capacidade vulgar majoritária de compreensão, que o ser humano e seu cérebro que não conseguem aceitar que não são capazes de compreender tudo que existe de uma forma lógica e coerente preferem simplesmente fingir que a questão não existe e pregar contra sua existência apenas com o intuito de sentir-se um pouco mais inteligente e no controle, ou, um pouco menos ignorante sobre a realidade e a natureza), o que, analisando como Bacon, apenas mostra como o ser humano se apequena diante das coisas que não consegue compreender e ao invés de tentar de fato se adequar para tal, prefere, na média vulgar, apelar para um senso comum de negação do problema baseado apenas na não capacidade de constatação desse problema de forma imediata por meio de seus sentidos, os quais não são capazes de apreender de forma imediata, completa e exata, as consequências de algo que foi constatado há décadas e que já vem surtindo determinados efeitos não fáceis de correlacionar e de constatar de forma fácil e imediata para o ser humano médio e comum, que prefere, por isso, fingir que tal questão não existe, confiando apenas em seus sentidos e na lógica falha de construção de raciocínio baseada no uso induzido e inadequado de seu intelecto, sem o compromisso de, de fato, tentar se aproximar da realidade, mas sim de apenas massagear o próprio ego da humanidade.

 Diante do exposto, é de fácil compreensão de que, analisando a forma como a humanidade vem tratando a questão do aquecimento global à luz de Bacon, o ser humano, de forma muito enganosa e estúpida, vem negligenciando a questão (real e fatal) do aquecimento global de forma a preferir distanciar-se ou até negar tal questão, com base em fatores de fácil sujeição ao erro, que é o caso dos sentidos e do intelecto humanos, que, para Bacon, são apenas meios errôneos de se constatar falsas verdades que objetivam apenas validar uma necessidade cerebral humana de se sentir correto e longe do erro, quando na verdade a constatação e aceitação do erro seria um caminho muito mais eficaz para se compreender um pouco melhor a realidade e a natureza. A forma como o ser humano constrói raciocínios e determina o que considera ou não fato é sempre baseada numa metodologia aculmulativa de experiências baseadas em experiências anteriores, o que apenas acaba arrastando um erro por inúmeras constatações que vão sendo feitas, igualando a importância entre coisas observadas atual e antigamente, e, para Bacon, a única forma de se romper com tal ciclo de erros seria com o ser humano procurando se abstrair de seus sentimentos e intelecto e, assim, atingindo um estágio mais eficaz de apreensão de informações sobre a natureza, deixando de Antecipar (fazer constatações baseadas em emoções, sentidos e no intelecto humano, que são falhos, se enganam) as questões da natureza e passando a Interpretar a natureza de fato (chegando em constatações independentes da vontade ou não do ser humano em acreditar naquilo, independendo da capacidade humana de ver lógica ou não na verdade de fato sobre a natureza), podendo, assim, parar de negar (seja mais sutilmente ou não) o problema do aquecimento global e podendo, portanto, endereçar o problema de uma forma adequada, sem a necessidade de uma negação estúpida do problema com finalidade exclusiva de incapacidade do ser humano de realizar sua própria ignorância e falha em compreender o tamanho da complexidade de um problema como o do aquecimento global.


Aluno: Otávio Aughusto de Andrade Oliveira

Turma: 1° Ano de Direito (2022) - Matutino


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