Percebe-se que em uma
sociedade que se autodenomina desenvolvida e avançada, alguns conceitos que
parecem básicos e relativamente simples, como o de “quando começa a vida?” apresentam
grandes polêmicas e não se valem de uma resposta concreta e unificada.
A ADPF 54 aborda
justamente esse questionamento e nela é possível reconhecer inúmeros aspectos,
por exemplo, médicos, religiosos e jurídicos, que rodeiam a sociedade e fazem
com que o tema do aborto seja tão complexo. É importante destacar que o STF
julgou procedente o pedido contido na ADPF 54 e declarou a
inconstitucionalidade de interpretação de que a interrupção da gravidez de feto
anencefálico é uma conduta criminosa. Entende-se que essa decisão foi baseada
no fato de que a antecipação terapêutica de fetos anencefálicos não está
violando o direito à vida, uma vez que há a ausência de potencialidade de vida
extrauterina, além de que a permanência do feto no útero da mãe pode gerar
riscos à saúde tanto física como psicológica da mulher.
Essa decisão favorável
pode ser analisada segundo a perspectiva do sociólogo Pierre Bourdieu. De
acordo com os seus princípios, a sociedade está cercada por grupos dominantes
que possuem certo diferencial diante das outras pessoas, portando, assim um
“poder simbólico” que pode ser material, imaterial ou intelectual.
Dessa forma, nota-se que no campo político há
a dominância de ideais de uma classe social específica, na qual contém seus
“Habitus”, ou seja, apresentam características culturais próprias que
influenciam nas suas decisões. Assim, tomando o caso da ADPF 54, é imposto uma
“violência simbólica” que impede a integridade da mulher, já que a legislação é
contrariada para que seja imposta uma convicção individual.
Os ministros, portanto,
ao votarem favoravelmente à ADPF 54 cumpriram os seus papeis de doutrinadores, já
que eles se utilizaram do espaço possível para implantar novos pensamentos no
campo jurídico. Além do mais, se percebe que o direito por estar conectado ao
meio social e suas transformações, ele é modificado conforme a sociedade e a
moral vigente.
Laura Santos Pereira de Castro (matutino)
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