O
indivíduo é agente, em certa parcela, da construção da sociedade, sendo essa
parcela suficiente para refutar a ideia marxista da hegemonia econômica frente
às mudanças sociais, isso tudo baseado no ideário de Max Weber e sua “sociologia
compreensiva”. Tanto o é de fato, que a partir de uma espécie de revolução
religiosa e cultural alterou-se a conduta social e econômica ocidental, em um
primeiro momento. Isto é, a reforma protestante foi responsável pelo
desenvolvimento de uma nova cultura, uma cultura de racionalização, disciplina
e acumulação; essa transformação no cotidiano e costumes sociais levaram ao assentamento
de uma nova prática que viria a moldar o novo mundo, o Capitalismo.
Tal
molde estaria suportado em quatro pilares fundamentais e sua racionalização: o Homem,
a Ciência, o Direito e a Economia. Ou seja, o Homem passa a adotar certos tipos
de conduta racional, uma conduta voltada para a disciplina e acumulação; a
Ciência se faz necessária ao ponto que impulsiona os interesses capitalistas e
dinamiza a economia e a sociedade; o Direito se faz presente uma vez que é o
responsável de administrar “como molas mestras” a racionalidade capitalista a
partir de regras formais; a Economia se transforma de modo a separar a
realidade familiar da realidade comercial, isto é, os lucros do indivíduo não é
dele, mas sim de sua empresa ou negócio, como explicitado na criação da “pessoa
jurídica” uma invenção genuinamente capitalista. Essas transformações e esses
pilares são fortemente refletidos na cultura norte-americana, onde existe uma
cultura majoritariamente protestante, nota-se a transposição da disciplina
fabril para o ambiente doméstico, cada membro da família com determinada
designação, uma organização voltada a poupar gastos e acumular lucros,
diferentemente dos moldes feudais de produção de subsistência em que a meta era
obter o suficiente para sua subsistência, como pregado pelo catolicismo então
hegemônico. Um exemplo mais que perfeito da transformação da economia a partir
de uma revolução sociocultural, enraizada na racionalização do homem.
Assim, a
esperança de mudança social por determinadas camadas e grupos sociais
fortalece-se, abre-se a possibilidade de desconstrução de preconceitos e construção
de uma realidade mais harmônica entre os indivíduos. Há, portanto, espaço para
o movimento LGBT, para o empoderamento feminino e negro e, principalmente, para
a pluralidade. Porém, um único inimigo pode levar essa esperança às ruinas,
esse inimigo explicitado em slogans como “Vem Ser Feliz”, “Amo Muito Tudo Isso”
ou “Lugar de Gente Feliz”, esse inimigo é o Tradicionalismo, isto é, a natural
disposição do ser humano a viver na intensidade que está acostumado a viver,
sem grandes mudanças e com as mesmas perspectivas. Esse Tradicionalismo esteve presente na vontade de Lula quando declarou
que seu sonho seria que todo operário do ABC tivesse um fusca, da mesma forma
em que está presente na resignação cotidiana frente aos desmandos políticos.
Não há
economia nem outra força que prenda os homens ao status quo, segundo Weber, o que os prende à servidão são eles
próprios, a cultura que constroem. Porém, os homens ainda sofrem coerção de um
poder dominante, e, segundo o alemão, “poder significa toda probabilidade de
impor a própria vontade numa relação social, mesmo contra resistências, seja
qual for o fundamento dessa probabilidade”. Portanto, as modificações sociais
mais profundas estão entrelaçadas com a cultura, ou seja, de imediato com a
educação, porém, desta vez, longe do preceito weberiano de educação (aquela
pela qual os homens são preparados para lidar com as transformações causadas
pela racionalização da vida, sistemática, voltada para o treinamento em operar
essas novas funções), uma educação que tenha por meta uma transformação
cultural, a fim de ser usada para a transformação social.
Felipe Cardoso Scandiuzzi - 1ª ano - Direito
Matutino
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