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quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Pilares do Poder

O indivíduo é agente, em certa parcela, da construção da sociedade, sendo essa parcela suficiente para refutar a ideia marxista da hegemonia econômica frente às mudanças sociais, isso tudo baseado no ideário de Max Weber e sua “sociologia compreensiva”. Tanto o é de fato, que a partir de uma espécie de revolução religiosa e cultural alterou-se a conduta social e econômica ocidental, em um primeiro momento. Isto é, a reforma protestante foi responsável pelo desenvolvimento de uma nova cultura, uma cultura de racionalização, disciplina e acumulação; essa transformação no cotidiano e costumes sociais levaram ao assentamento de uma nova prática que viria a moldar o novo mundo, o Capitalismo.
Tal molde estaria suportado em quatro pilares fundamentais e sua racionalização: o Homem, a Ciência, o Direito e a Economia. Ou seja, o Homem passa a adotar certos tipos de conduta racional, uma conduta voltada para a disciplina e acumulação; a Ciência se faz necessária ao ponto que impulsiona os interesses capitalistas e dinamiza a economia e a sociedade; o Direito se faz presente uma vez que é o responsável de administrar “como molas mestras” a racionalidade capitalista a partir de regras formais; a Economia se transforma de modo a separar a realidade familiar da realidade comercial, isto é, os lucros do indivíduo não é dele, mas sim de sua empresa ou negócio, como explicitado na criação da “pessoa jurídica” uma invenção genuinamente capitalista. Essas transformações e esses pilares são fortemente refletidos na cultura norte-americana, onde existe uma cultura majoritariamente protestante, nota-se a transposição da disciplina fabril para o ambiente doméstico, cada membro da família com determinada designação, uma organização voltada a poupar gastos e acumular lucros, diferentemente dos moldes feudais de produção de subsistência em que a meta era obter o suficiente para sua subsistência, como pregado pelo catolicismo então hegemônico. Um exemplo mais que perfeito da transformação da economia a partir de uma revolução sociocultural, enraizada na racionalização do homem.
Assim, a esperança de mudança social por determinadas camadas e grupos sociais fortalece-se, abre-se a possibilidade de desconstrução de preconceitos e construção de uma realidade mais harmônica entre os indivíduos. Há, portanto, espaço para o movimento LGBT, para o empoderamento feminino e negro e, principalmente, para a pluralidade. Porém, um único inimigo pode levar essa esperança às ruinas, esse inimigo explicitado em slogans como “Vem Ser Feliz”, “Amo Muito Tudo Isso” ou “Lugar de Gente Feliz”, esse inimigo é o Tradicionalismo, isto é, a natural disposição do ser humano a viver na intensidade que está acostumado a viver, sem grandes mudanças e com as mesmas perspectivas. Esse Tradicionalismo esteve presente na vontade de Lula quando declarou que seu sonho seria que todo operário do ABC tivesse um fusca, da mesma forma em que está presente na resignação cotidiana frente aos desmandos políticos.
Não há economia nem outra força que prenda os homens ao status quo, segundo Weber, o que os prende à servidão são eles próprios, a cultura que constroem. Porém, os homens ainda sofrem coerção de um poder dominante, e, segundo o alemão, “poder significa toda probabilidade de impor a própria vontade numa relação social, mesmo contra resistências, seja qual for o fundamento dessa probabilidade”. Portanto, as modificações sociais mais profundas estão entrelaçadas com a cultura, ou seja, de imediato com a educação, porém, desta vez, longe do preceito weberiano de educação (aquela pela qual os homens são preparados para lidar com as transformações causadas pela racionalização da vida, sistemática, voltada para o treinamento em operar essas novas funções), uma educação que tenha por meta uma transformação cultural, a fim de ser usada para a transformação social.

Felipe Cardoso Scandiuzzi - 1ª ano - Direito Matutino  

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