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segunda-feira, 2 de maio de 2016

Amarras


Eu estou preso.
Prenderam-me sem perguntar se queria.
Sem me ouvir.
Eu estou preso e não consigo sair.
Sou eu um subproduto
Do produto que é a família.

Sou adestrado.
Corro mais do que poderia.
Vou seguindo pegando a bolinha todos os dias,
Pegando a fila todos os dias,
E fazendo coisas que me fazem fazer.

Tenho mãos.
Tenho talheres.
Me têm olhares.
E vou comendo como a etiqueta manda,
E nas etiquetas tem um carimbo de outro país,
E me fazem ouvir a música que não compreendo o que diz,
E me obrigam a entender.

Eu e todos presos em nós e presos neles.
Mas quem?
Uma coerção que não tem rosto definido,
Mas que me amarra.
Me tortura
Me abusa
Me surra
Surrado e ainda preso
Eu grito:
- Me desprendam!
Desprezo.

José Eduardo Adami - 1º Direito (Noturno)


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