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sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Poderá o direito ser emancipatório na questão racial?

É recorrente no discurso de Boaventura de Sousa Santos a temática da emancipação social, que surge como uma tentativa de fazer com que aqueles que não foram contemplados pelo contrato social possam se inserir nele. Em seu texto, Poderá o direito ser emancipatório?, Boaventura reflete sobre a possibilidade do direito, um elemento que antes era visto como forma de manutenção do status quo, passar a ser visto como um instrumento de mudança.


O Partido Democratas ajuizou uma arguição de descumprimento de preceito fundamental contra a Universidade Nacional de Brasília, que instituiu o sistema de reserva de vagas com base em critério étnico-racial no processo de seleção. Ao analisar a ADPF 186/DF sob a ótica da teoria do Boaventura, podemos constatar que o Partido Democratas é contra a emancipação social, esta, que nesse caso tenta corrigir um passado de quase 300 anos de escravidão, e a não inserção na sociedade do negro após a abolição. Percebe-se que a UNB estabeleceu o critério de reserva de vagas para resgatar os negros que estão na sociedade civil incivil, e assim, tentar garantir a reparação histórica do legado da escravidão e a pluralidade (além da miscigenação intelectual), já que esta, no ambiente universitário, é fundamental para o desenvolvimento do aluno.
Boaventura afirma que a exclusão é sempre produto de relações de poder desiguais, e discorre sobre a estratificação da sociedade civil em três classes: a sociedade civil íntima, caracterizada pela hiper-inclusão; a sociedade civil estranha, caracterizada pela inclusão parcial, com exclusão atenuada por algumas redes de segurança; e a sociedade civil incivil, habitada pelos totalmente excluídos, composta por indivíduos invisíveis socialmente.
Ele usa também a ideia de fascismo social, que vem da sensação de insegurança que enreda a todos e que faz com que tendamos a ver aqueles que não se mostram aptos, como pessoas que devem ser colocadas de lado, ou seja, uma forma de darwinismo social. Ele classifica diversas formas de fascismo social, como: o fascismo do apartheid social, sobre a condição social necessária; o fascismo contratual, sobre a prestação de serviços públicos como meras relações privadas de consumo; o fascismo territorial, sobre os lugares onde há o acesso ao conhecimento; o fascismo financeiro, relacionado à condição financeira necessária. Na questão da exclusão dos negros, podemos encontrar a presença do fascismo contratualista, apartheid social, territorial e financeiro.
Além disso, Boaventura aborda o pós-contratualismo­, que seria o processo por meio do qual, grupos e interesses sociais até aqui incluídos no contrato social se veem excluídos deste sem qualquer perspectiva de regresso, como pode-se observar na tentativa do DEM suspender o direito dos cotistas já aprovados. Nesse caso, a tentativa de exclusão pós-contratualista encontra-se presente pois ocorre depois do direito ser adquirido, já que aquelas pessoas haviam passado pelo vestibular e conquistado suas vagas.
Segundo Boaventura, a economia de saberes, ou seja, a restrição de recursos intelectuais e teóricos para explicar, deve ser substituída por uma ecologia de saberes, ou seja, se valer de todo um ecossistema teórico que tem suas raízes plantadas no todo social. Outro ponto abordado por Boaventura é o cosmopolitismo, ou seja, pensar em um saber que tanto é válido em diversas realidades, como também advém de múltiplas realidades. Assim, o cosmopolistismo subalterno é um projeto plural por meio do qual os movimentos sociais se comunicam entre si e as maiores conquistas se materializam em um ponto de chegada comum. Ou seja, é importante que o direito seja também contra-hegemônico, onde possui um ponto de partida plural, mas um ponto de chegada comum. No caso estudado, da minimização da exclusão, podemos tomar como exemplo a Central Única de Trabalhadores (CUT), que também apoia o movimento negro.
O Partido Democratas mobiliza o argumento da democracia racial para defender suas ideias, e afirma que o Estado é plural e multifacetado. No entanto, ao olhar para o interior da universidade, percebe-se que a sociedade não é tão plural assim. Além disso, o Partido Democratas defende que a exclusão é social e econômica, e não racial, e que ninguém é excluído por ser negro. No entanto, só por não existir ódio racial, não significa que não há um racismo. Há um ódio velado, que é tão perigoso quanto o ódio escancarado, já que pode fingir não estar presente. Como Bauman afirma, quanto mais homogêneo é o espaço, mais difícil é conviver com as diferenças.

Amanda Barbieri Estancioni
1º ano - direito diurno
Aula 2.1 (05/11/2015)

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