Nada do que você pensa, sente, faz, imagina ou
acredita é fruto de sua própria consciência. Nada é individual, único ou
extraordinariamente singular. O que somos, pensamos e como agimos são apenas
imposições sociais colocadas em nosso ser desde o dia em que viemos ao mundo e
choramos pela primeira vez. Disso já nos alertava Émile Durkheim há tempos.
Desde o
momento em que nascemos a sociedade nos inunda de pensamentos, crenças, orientações.
Logo nos primeiros momentos da vida já somos impelidos a distinguir o que o meio
social definiu como certo e como errado sem que possamos questionar. Engolimos
a seco, desde crianças, as regras sociais pois sempre que tentamos confrontá-las
somos reprimidos pela simples frase “ é assim porque é”. As crianças são “chatas”
por perguntarem os porquês das obviedades da vida aos pais e,nesse momento em
que se corta a possibilidade da duvida,se mata todo e qualquer possível tipo de
especificidade que o ser humano pode ter. A indagação é freada e nadamos com a
maré a favor da correnteza, acomodamo-nos às regras e passamos a acreditar que alguns
de nossos sentimentos são frutos de nossa própria formulação.
Contudo, as
formas que se expressam nos indivíduos nada mais são do que um conjunto de modos
de conduta imposto pelas normas. Nós somos frutos do que absorvemos, do que já pré
existe e não daquilo que criamos, somos um amalgama de influencias que vem de
todas as direções, e nos diferenciamos apenas quanto ao que é assimilado por
nós e não é pelos outros, e o que é assimilado pelos outros e não é por nós.
Assim, pode se dizer que todos temos pontos comuns, somos filhos biológicos de
mesmos pais e mães sociais,temos as mesmas condutas,seguimos os mesmos padrões,somos
iguais até em nossas diferenças.
Essa perda
da individualidade gera uma sociedade fria e robótica. O fato social é
coercitivo e não perdoa ninguém. Está em todos nós, precisa ser aceito, digerido,
assimilado, reproduzido e não admite que algo ou alguém não se adeque a ele. É daí
que vem o suicídio, a solução fatal para o fato social, o ato extremo da
coerção dos fenômenos da sociedade: aquele que não se integra se exclui.
E assim
cada vez mais essa ideia de que a individualidade não mais existe é disseminada
entre os homens, cada vez mais o seres passam a aceitar que não precisam ser únicos,
cada vez mais as imposições são admiradas, cada vez mais as particularidades se
tornam anomalias, cada vez mais o ser humano perde sua essência e se torna
bando. Tudo o que somos é coletivo. Tudo o que pensamos é coletivo. Tudo o que
fazemos é coletivo. Inclusive a ideia de que tudo é grupal e nada é individual
é um pensamento coletivo.
Será que
Durkheim tinha razão? Ou será que essa ideia se irradiou, tornou-se senso comum
e fez com que as pessoas deixassem de se preocupar em questionar e
particularizar? Será que realmente não somos seres singulares e nossas ações
não partem de nós mas sim da coerção social?
As respostas? Essas deixo para a individualidade do
leitor.
Seria muita petulância minha dizer que não existe individualidade, tendo em vista que o ser humano é um ser social?
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