Em 1889,
militares brasileiros, banhados pelo positivismo europeu, proclamaram a República
em nosso país. “ORDEM E PROGRESSO” foi a máxima que conquistou espaço na bandeira
nacional, a qual é a síntese do pensamento do filósofo francês Augusto Comte, o
fundador do pensamento positivista.
De acordo com
Comte, apenas leis invariáveis,
respeitadas pelas instituições de uma sociedade e por cada indivíduo cumprindo
seu papel social (ordem), são capazes de gerar o
desenvolvimento (progresso). Tais
leis referem-se a aspectos superficiais e objetivos do convívio social, sem
haver lugar para a busca da essência das coisas e da natureza humana.
Partindo-se dessa Física Social, o
filósofo defendeu a busca pelo ensino positivo, afastado de conceitos
metafísicos, teológicos e literários: a substituição de “poetas” por “engenheiros”.
A anarquia
social para Comte, seria a quebra dessa estática da sociedade, a partir do
momento que ela deixasse de seguir suas leis imutáveis. Revoluções, Guerras, Exibicionismos, Rolezinhos, Manifestações.
Tudo isso não causaria medo apenas em Comte, mas causa, também, na população
moderna. Se há uma guerra na Criméia (e em qualquer lugar do mundo),
“favelados” caminhando pelos shoppings centers, mulheres mostrando os seios em
protestos e manifestações democráticas exigindo o fim da corrupção é porque há
algo de errado na sociedade. E sem perceberem, todas as pessoas que se sentem
incomodadas frente a estes fatos, estão embebidas na Filosofia Positiva, uma
vez que precisam seguir e viver num estado de Ordem para sentirem-se
confortáveis.
Tal mentalidade
é tão atual que os inúmeros “Marco Felicianos” existentes hoje baseiam-se em
teorias de Comte, principalmente no que diz respeito a ideia de que tudo o que
não segue a normalidade é visto como patologia
e deve ser tratado. Pois bem, “como a homossexualidade não segue a lógica
natural das coisas, ela é uma doença. Contudo, não há motivos para os gays se
preocuparem, pois já existe uma cura para eles: a Cura Gay! Tratem já de
respeitarem a Ordem homem-mulher, pois estão atrasando o Progresso do país”.
Talvez até Comte se envergonharia de tal
discurso...
O positivismo
teve sua importância na época em que viveu Augusto Comte, mas basear-se por
inteiro nessa filosofia em pleno século XXI parece bastante equivocado.
Abandonar a essência das coisas é ignorar parte do ser humano, a qual não está
desvinculada das relações sociais. Os homens não são meras máquinas seguidoras
de leis, não existem regras para sua orientação sexual e seus costumes, não
existe seleção de pessoas para caminhar em espaço público. `As vezes, o “caos”
é necessário para gerar boas mudanças, ignorando isso o homem justifica sua
conformidade com problemas sociais.
Nathalia Nunes Fernandes, Direito Diurno
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