Ilu$ão
No momento do
texto “ Para a Crítica da Filosofia do
Direito de Hegel”, Marx ainda não era comunista, e sim democrata. Nessa época,
o autor estava descobrindo o que é o capitalismo e o direito que está surgindo,
por isso a obra abre as portas para o entendimento do capitalismo para Marx.
Usando
metáforas, analogias e muita ironia, Marx critica a sociedade alemã por seu
atraso no campo da filosofia comparando-a com a religião e ao mesmo tempo,
critica a abstração da filosofia de Hegel. A filosofia de Hegel opera conforme
a lógica religiosa, enaltecendo o Direito como solução de todos os problemas da
humanidade. O pensamento que constrói o ideal de Direito, para Marx é um
pensamento racional, porém é muito abstrato já que não é trazido para o
concreto, ficando no plano das ideias.
Para Marx, a
religião é o reflexo da condição miserável da autoconsciência do homem (que
está perdido ou ainda não se encontrou),sendo assim, o homem só encontrará a
felicidade material quando superar a felicidade ilusória e enxergar que esta é
entorpecida, abandonando o vício desse ópio. Da mesma forma se mostra a crítica
ao Direito idealizado de Hegel, o qual mascara a ideia de que esse é um campo
que representa apenas a classe dominante, sendo assim uma falsa ideia de
igualdade geral. Portanto, a filosofia opera com a mesma chave que a religião:
turva a realidade do homem, transformando seu ideal em um plano ilusório, não
adquirido ainda em vida.
A filosofia entorpece os sentidos,
a compreensão e constrói idealmente uma ideia de Direito que serve a todos, que
é a emanação de todos os anseios. A perspectiva de que todos são iguais perante
a lei é uma das ideias de entorpecimento da filosofia, pois essa igualdade
restringe-se aos que conseguem usar o direito ao seu favor. Hoje muitos
juristas ainda acreditam que o que vale é apenas o que está nas leis, transformando-as
em dogmas, fazendo analogia com a religião, dessa maneira, pode-se dizer que
estes juristas estão pensando apenas no mundo das ideias ( e das leis positivadas) sem pensar na
realidade das pessoas, como ocorreu, por exemplo, no caso pinheirinho.
Marx propõe o que Descartes e Bacon
propuseram: trazer para si a compreensão do mundo, se afastando da ilusão da
filosofia e do entorpecimento da religião. Se fôssemos pensar essa ideia hoje,
é possível afirmar que o homem contemporâneo conseguiu se desligar da religião
para explicar o mundo concreto, deixando-a como algo espiritual que garantirá o
paraíso após a morte, porém adotou como nova “religião” a ciência e
principalmente o mercado como fonte de sua felicidade plena.
Não é por acaso que hoje o mercado é
uma “religião”. Essa consciência é imposta pelo modo de produção, o qual
professa os valores mercadológicos que vão para além da classe, pois ilude o
homem alienado, o qual compra para se sentir um pouco mais próximo da realidade
do rico, e o dominador , cujo consumo é movido pela mídia que subliminarmente
mostra que essa é a melhor forma de prazer instantâneo, trazendo assim, a
felicidade para todos.
Para chegar ao ideal de Marx, o concreto
pensado se articula com o concreto vivido (materialismo dialético). O homem, em
sua perspectiva só vai conseguir romper com os símbolos ilusórios, ou melhor,
com seu ópio, quando entender que ele é o centro de sua própria história,
podendo mudar sua realidade por si próprio. A realidade contemporânea do
consumo desenfreado, porém, mostra a incapacidade do homem de enxergar essa possibilidade concreta de felicidade
simplesmente por não entender que ele é sua própria raiz.
Giovanna Gomes de Paula - direito noturno
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