O PERIGO DA TALEBANIZAÇÃO DA UNIVERSIDADE
BRASILEIRA
A
universidade pública brasileira corre perigo; não porque há falta de verbas,
professores e infraestrutura, embora isso também seja verdade, mas porque o
risco do autoritarismo ideológico está presente e ameaça o futuro do livre
debate no lugar em que o pluralismo, a tolerância e o direito à diversidade
deveriam imperar incontestavelmente. Corre perigo porque esse espaço de
produção acadêmica não deve sucumbir ao unilateralismo político; se somente uma
visão, um grupo, possui poderes para estabelecer quem pode e quem pode se
expressar sem censura, cria-se um precedente em tons kafkanianos; primeiro, proibi-se
uma palestra, e depois?Proibir-se-á um grupo de extensão? Um programa
curricular divergente? Proibir-se-á um professor que for contra a vertente hegemônica?Aquilo
que começa como um simples ato impulsivo de paixões políticas pode se
transformar na energia vital para que se institua uma solidariedade mecânica de
repressão ao contrário, à alteridade. A universidade ,ainda, deve defender suas origens latinas remetentes
á Idade Média.O termo universidade deriva da expressão universitas magistrorum et
scholarium que significa “comunidade de
professores e acadêmicos”.Se discute-se , então, o livre debate dentro de uma
universidade deve-se , incondicionalmente, defender o status da instituição
como comunidade.Assim, ignoram-se as paixões, resgata-se a racionalidade,
produz-se conhecimento.
E
o conhecimento não pode, sob qualquer hipótese, ser produzido em um ambiente repressor.
O poder reacionário de repressão por parte da burocracia, dos discentes e
docentes não deve, jamais, impedir a liberdade de expressão, o direito à opinião
divergente, o direito a valores contrastantes dentro da universidade. Se o
Brasil avançou socioeconomicamente nos últimos 20 anos foi porque procurou-se
proteger , defender e promover a diversidade nas mais variadas possibilidades.O
país, “um país de todos”,deve lutar para que a universidade continue sendo um
espaço para o debate, para a tolerância, para a diferença.A partir do
momento que tais valores forem perdidos,
deixaremos de viver em um país plural e teremos que nos acostumar com a TALEBANIZAÇÃO repressora ; é em
lugares como o AFEGANISTÃO
em que reprime-se com força, fanatismo e radicalismo aquilo que for antagônico.
A
universidade pública brasileira, portanto, tem que resistir às pressões
talebanizadoras de certos grupos intrínsecos a ela. A universidade deve ser universal,
deve buscar resgatar sua origem latina, deve inibir o impedimento ao convívio
de facções divergentes, deve estimular o convívio entre cursos, classes sociais
e indivíduos distintos. Uma universidade que ambicione reconhecimento mundial,
que anseia por respeito internacional por parte da comunidade acadêmica e por
estudantes de todo o mundo deve pautar-se na ciência para gerir o presente e
olhar para o futuro. A ciência, inquestionavelmente, surge como a pauta, o bastião,
o alicerce para o crescimento acadêmico de todos envolvidos na universidade;
paixões datadas não podem neutralizar a racionalidade. A universidade pública
brasileira, em suma, pode e deve resistir às tentativas de TALEBANIZAÇÃO de seu espaço; no
entanto, ainda não há qualquer previsão de quando Hugo Chávez, Amahjinedad,
Geraldo Alckmin, João Pedro Stedile, ACM Neto, e tantos outros, poderão
palestrar livremente sem serem alvo de ameaças, insultos e ataques ideológicos.
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