A máquina, a
produtividade e a condição humana: ônus e bônus da lógica de mercado
O advento das
máquinas no auge do séc. XVIII deu a luz à Revolução industrial e teve como berço
as terras inglesas. Esse evento foi responsável por uma mudança de mentalidade
na época, pois surge com ele o capitalismo industrial que provoca de modo
violento e imperativo uma mudança em toda a lógica e estrutura social da época,
provocando uma verdadeira mudança na hierarquia de valores da sociedade da
época.
Como exemplo,
podemos citar a alteração da percepção do tempo, que se converte elemento
imprescindível para a lógica de mercado. Se antes o prazo necessário para a
produção de um calçado era o advento da próxima colheita, com o surgimento das
fábricas e das máquinas ele se torna incrivelmente curto e frenético, o tempo
se transforma em dinheiro e deixa de ser algo meramente relativo e flexível.
A
produtividade dependente principalmente das máquinas faz com que o trabalhador
passe a um segundo plano, sendo necessário apenas como servidor mecânico da
nova lógica de mercado estabelecida. A condição humana, sua dignidade, passa a
ser vista em função da produção e seu valor diretamente relacionado a sua
capacidade de produção, de força mecânica. O salário do trabalhador não é nesse
contexto uma forma justa de recompensar seu trabalho, mas sim um elemento de
manipulação, de livrar-se de um ônus nada interessante para a lógica de mercado
da época, pois através do salário o patrão livra sua consciência das
responsabilidades sociais que possui para com o trabalhado.
Desse modo, a
dignidade humana encontra-se ferida, pois o sistema parece não estar feito ao
serviço do homem e sim o homem a serviço do sistema. Valoriza-se mais o maquinário,
o valor monetário do seu labor, do que elementos imprescindíveis a seu bem
estar social.
Nesse
contexto, Marx, em “O Capital” passa a indagar qual o papel da máquina e do
homem no contexto global. Em um mundo onde a ciência e a tecnologia passam a
ser elementos essenciais para o mercado. Para Marx, a máquina não é um elemento
neutro, mas confronta o papel que o ser humano e seu saber desempenham no
mundo. Se as máquinas são capazes de realizar as mesmas funções que um ser
humano com uma eficácia muito superior estaria o homem sendo superado em sua
capacidade dentro do mercado? Mas se o ser humano é metafisicamente
falando quem possui maior grau de ser na esfera dos entes materiais, sua
dignidade e seu saber não deveriam superar em qualquer ocasião o valor de uma
máquina? Na teoria é fácil afirmar que sim, mas no contexto do mercado, essa
não é a realidade, a produção de uma máquina é muito superior à capacidade
biológica do homem e possui monetariamente falando maior valor agregado que a
capacidade humana e intelectual de produção
A tecnologia
da informação, por exemplo, pode ser entendida dessa forma como um fato
notoriamente a serviço da lógica capitalista de mercado e não como uma
realidade que visa principalmente o convívio social e o acesso mais fácil e
rápido a informação. A inquietação de Marx é a de que o avanço tecnológico
retira a necessidade do homem como principal força de trabalho. Toda evolução obtida
com novas tecnologias é essencialmente pró-mercado e nelas, a condição humana
não é tida como objeto, mas sim como um meio de lucro, como modo de ganhar
dinheiro e incrementar cada vez mais o sistema ao qual está a favor.
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