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domingo, 17 de junho de 2012



A máquina, a produtividade e a condição humana: ônus e bônus da lógica de mercado

O advento das máquinas no auge do séc. XVIII deu a luz à Revolução industrial e teve como berço as terras inglesas. Esse evento foi responsável por uma mudança de mentalidade na época, pois surge com ele o capitalismo industrial que provoca de modo violento e imperativo uma mudança em toda a lógica e estrutura social da época, provocando uma verdadeira mudança na hierarquia de valores da sociedade da época.

Como exemplo, podemos citar a alteração da percepção do tempo, que se converte elemento imprescindível para a lógica de mercado. Se antes o prazo necessário para a produção de um calçado era o advento da próxima colheita, com o surgimento das fábricas e das máquinas ele se torna incrivelmente curto e frenético, o tempo se transforma em dinheiro e deixa de ser algo meramente relativo e flexível.

A produtividade dependente principalmente das máquinas faz com que o trabalhador passe a um segundo plano, sendo necessário apenas como servidor mecânico da nova lógica de mercado estabelecida. A condição humana, sua dignidade, passa a ser vista em função da produção e seu valor diretamente relacionado a sua capacidade de produção, de força mecânica. O salário do trabalhador não é nesse contexto uma forma justa de recompensar seu trabalho, mas sim um elemento de manipulação, de livrar-se de um ônus nada interessante para a lógica de mercado da época, pois através do salário o patrão livra sua consciência das responsabilidades sociais que possui para com o trabalhado.

Desse modo, a dignidade humana encontra-se ferida, pois o sistema parece não estar feito ao serviço do homem e sim o homem a serviço do sistema. Valoriza-se mais o maquinário, o valor monetário do seu labor, do que elementos imprescindíveis a seu bem estar social.

Nesse contexto, Marx, em “O Capital” passa a indagar qual o papel da máquina e do homem no contexto global. Em um mundo onde a ciência e a tecnologia passam a ser elementos essenciais para o mercado. Para Marx, a máquina não é um elemento neutro, mas confronta o papel que o ser humano e seu saber desempenham no mundo. Se as máquinas são capazes de realizar as mesmas funções que um ser humano com uma eficácia muito superior estaria o homem sendo superado em sua capacidade dentro do mercado? Mas se o ser humano é metafisicamente falando quem possui maior grau de ser na esfera dos entes materiais, sua dignidade e seu saber não deveriam superar em qualquer ocasião o valor de uma máquina? Na teoria é fácil afirmar que sim, mas no contexto do mercado, essa não é a realidade, a produção de uma máquina é muito superior à capacidade biológica do homem e possui monetariamente falando maior valor agregado que a capacidade humana e intelectual de produção

A tecnologia da informação, por exemplo, pode ser entendida dessa forma como um fato notoriamente a serviço da lógica capitalista de mercado e não como uma realidade que visa principalmente o convívio social e o acesso mais fácil e rápido a informação. A inquietação de Marx é a de que o avanço tecnológico retira a necessidade do homem como principal força de trabalho. Toda evolução obtida com novas tecnologias é essencialmente pró-mercado e nelas, a condição humana não é tida como objeto, mas sim como um meio de lucro, como modo de ganhar dinheiro e incrementar cada vez mais o sistema ao qual está a favor. 

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