A primeira impressão
sobre a autoridade dentro do contexto brasileiro pode ser tanto a neutralidade,
quanto a legitimidade. Além disso, pode ser analisada como imprescindível à organização
da sociedade. Entretanto, embora existam sujeitos exemplares durante o processo
histórico do país, sabe-se que há, também, aqueles que, por meio do exercício
do poder, reproduzem preceitos intolerantes. Tal contradição revela a ideia da
autoridade não como um conceito neutro e livre de ideologias, mas como uma
ideia vinculada às estruturas de poder e de dominação existentes no âmbito
social. A partir dessa lógica, Max Weber, como fundador do pensamento da
Sociologia Compreensiva, tenta entender os motivos pelos quais essa autoridade
é legitimada pelas pessoas, mesmo quando inseridas em um contexto de
desigualdade. Essa análise pode ser feita e exemplificada com êxito pela obra “O
Que é Racismo Estrutural? ” – escrita por Silvio Almeida-, a qual explicita o
pensamento de que a ideologia racista não está inserida em um contexto isolado,
mas em um estrutural. Dessa forma, a união dessas duas teorias permite reconhecer
que a figura de autoridade pode reforçar o preconceito e a exclusão, e nem
sempre representar a justiça e a equidade.
Sob a perspectiva de Max Weber, o poder se legitima nas
relações interpessoais, as quais podem ser entre os próprios indivíduos ou
entre a sociedade e o Estado. Ao abordar essa ideia, o sociólogo tenta entender
os mecanismos por trás da aceitação da autoridade, ou, em outras palavras, dos
tipos de dominação legítima. Isso porque, de acordo com a Sociologia
Compreensiva, é necessário entender as motivações e o contexto social que leva as
pessoas a agirem de uma certa maneira. Weber identifica a “dominação
carismática”, a qual é a capacidade de um líder mover as massas e mobilizar a
população. Esse conceito envolve a ideia de uma devoção ao líder, ou seja, as
pessoas tendem a confiar e a acreditar no poder dele. Há, também, a “dominação tradicional”,
explicitando a ideia de uma autoridade baseada no costume e nas tradições. Dentro
desse contexto, a frase “sempre foi assim” resume essa ideia de legitimidade,
pois percebe-se que nada é questionado – nem mesmo o poder-, mas é cada vez
mais intrínseco às pessoas. Além disso, a “dominação racional-legal” explicita
a ideia de que as pessoas acreditam em um sistema jurídico genuíno e
verdadeiro. Isto é, essa suposta ordem de leis, normas e regras também não
seria contestada. De maneira geral, os dois últimos tipos de dominação resumem
a realidade de um poder que, resguardado pela tradição e pela lei, se sustenta
dentro das instituições do Estado, demonstrando que as raízes de uma sociedade-como
valores e crenças- estão definidas por uma certa lógica há muito tempo
fundamentada.
Tais conceitos podem ser melhor explorados a partir da obra de Silvio Almeida. A ideia principal abordada por ele é a identificação do racismo não como uma ação individual, mas como um comportamento que respeita a forma sistemática da discriminação. A perspectiva da dinâmica racista faz parte do funcionamento das instituições, ou seja, é como se já estivesse incorporada ao Estado. Nesse sentido, esse fundamento reitera o conceito weberiano, pois enquanto o sociólogo pretende analisar as ferramentas que tentam compreender como a autoridade é legitimada, Almeida evidencia essa lógica e escancara os privilégios e a opressão. Por exemplo, embora não existam mais leis racistas, muitos comportamentos discriminatórios ainda são mantidos pela tradição, sem que as pessoas ao redor questionem isso. Ademais, as próprias instituições, como empresas e universidades, aplicam normas aparentemente neutras, mas que carregam, na prática, um reforço da desigualdade racial. Isso pode ser observado quando processos seletivos de concursos públicos e de corporações não consideram o passado histórico da comunidade preta- marcada pela escravidão e exclusão-, fazendo com que não tenha oportunidades reais de ascensão. Nesse contexto, o racismo não é um conjunto de ações preconceituosas individuais, mas é uma crença institucionalizada e normalizada. Pode ser, também, baseada no conceito das dominações tradicionais e racionais-legais, pois o preconceito racial continua sendo reproduzido a partir de justificativas- “sempre foi assim”- e pela aparente imparcialidade da norma jurídica.
É possível concluir, pois, que a teoria da autoridade de
Weber contribui para a compreensão da perpetuação do racismo estrutural dentro
do contexto social. Como retratado por Silvio Almeida, as práticas
preconceituosas contra a comunidade preta muitas vezes estão implícitas, se
escondendo sob a tradição e leis supostamente neutras. Logo, tais conceitos
permitem entender que a legitimação do poder e da autoridade se inserem em uma
dinâmica muito diversa e complexa.
Isabella de Souza Rodrigues Castanho- 1° ano Direito Noturno. (como assisti à aula do matutino, fiz de acordo com a divisão desse período, como orientado pelo professor).
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