O Racismo é um fenômeno complexo e que, além de se mostrar em múltiplos âmbitos na sociedade, também se origina através de uma pluralidade de fatores. Além disso, de cultura a cultura, de país a país, todas essas engrenagens mudam, e o racismo adquire novas formas. Entretanto, apesar de toda essa abrangência, é comum uma visão individualista deste fenômeno pela maioria das pessoas. Tal perspectiva é apenas uma das três principais formas de manifestação do racismo colocadas por Silvio Almeida em seu livro “ A Raça na História “. Tal obra consegue evidenciar a amplitude do tema, sendo que a soma de seus conceitos junto à sociologia compreensiva de Weber quando aplicados ao mundo podem esclarecer muito sobre o racismo.
Primeiramente, vale reparar como Weber na verdade já está presente na obra de Silvio Almeida. Já no início ele diferencia preconceito de discriminação pontuando que o primeiro trata-se de fazer pré julgamentos de indivíduos com base em premissas e estereótipos que podem subjulgar certos indivíduos. Em outras palavras, há na cabeça de cada um certos tipos ideais que enquadram as pessoas erroneamente, visto que não condizem com a realidade. Além disso, ele argumenta que não há como existir racismo reverso sendo que o racismo depende do poder de um grupo sobre o outro, que devido à toda a estrutura social só consegue ser exercido em um único sentido, nunca na via contrária. Aqui entra outro conceito de Weber: o de poder e dominação. Os brancos conseguem colocar suas vontades acima da dos negros e assegurar privilégios para si e tudo baseado em um sistema que o permite fazer isso, pois o próprio sistema é racista. Já algum preto poderia até excluir um ou outro indivíduo branco em específico mas nunca exercer poder e dominação sobre os brancos. Por último pode-se colocar aqui as três classificações do racismo trazidas: o individualista, o institucional e o estrutural. No primeiro é possível enxergar a análise das ações sociais de cada um, dos objetivos e motivos que levam uma pessoa a discriminar a outra pela “raça”. No caso, seriam ideais racistas das próprias pessoas, com origem no colonialismo, passando pelo imperialismo e pela escravidão. Já os fins poderiam ser a manutenção de privilégios. Já no racismo institucional vê-se a mobilização de organismos maiores mas igualmente capazes de diferenciar, de discriminar. Isso porque o racismo está na própria estrutura da sociedade e portanto, a menos que haja medidas anti racistas, o “natural” é que o racismo se mostre, já que está na própria estrutura. Nesse sentido, a ação social seria dos brancos contra os pretos como um todo.
Tais percepções de Silvio Almeida permitem que a luta anti racista se torne muito mais eficaz. A política de cotas, por exemplo, baseia-se nesse entendimento do racismo como estrutural e que para ser corrigido demanda ações anti racistas, no caso, que corrigam o déficit causado pela pelas diversas barreiras colocadas aos negros ao longo de sua vida e que dificultam seu acesso ao estudo de qualidade e a notas no vestibular tão altas quanto às dos brancos, que não tiveram tais barreiras. Não só nas cotas, mas com muitas outras medidas é possível fazer essas análises que, ao usarem métodos mais realistas de compreender a sociedade como ela realmente é, no caso a sociologia compreensiva de Weber, permitem uma luta mais combativa contra o racismo. Afinal, como disse Angela Davis: “ numa sociedade racista, não basta não ser racista, é necessário ser antirracista”.
Eloisa Prieto Furriel- 1 ano Direito Matutino
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