Na entrada de um edifício de vidro escuro, uma placa brilha com as palavras: “Diversidade e Inclusão: Compromisso com o Futuro”. Mariana uma jovem negra, entra ajeitando a blusa e respirando fundo, preparando seu consciente para oque viria. Em sua mão, está o currículo dobrado, em seus olhos, a lembrança da avó dizendo que só a educação poderia transformar sua vida.
Ela entra.
Na recepção, há sorrisos ensaiados. Nos corredores se depara com tapetes espessos e os olhares a observam, suaves o suficiente para não confrontar, mas frios demais para oferecer acolhimento. Ao seu redor, homens vestidos de terno. Alguns dizem “parabéns por estar aqui”, outros permanecem quietos. Porém, o que realmente soa são as paredes. Elas têm algo a dizer. E falam em nome da lei, da tradição, da eficácia e da boa aparência.
Mariana percebe que apenas estar presente não é suficiente, ter um diploma bem conceituado, falar inglês fluentemente, ter feito um MBA à noite, tudo isso ainda sim, não é o bastante. Existe uma atmosfera que pesa, que sutilmente regula e limita. É como se toda a estrutura estivesse pronta para aceitar sua presença...desde que ela não traga mudanças ao sistema.
Na sala da diretoria, um homem branco fala com firmeza sobre meritocracia. Mariana ouve e se pergunta: “Mas quem definiu o que é mérito? Quem estabeleceu as regras desse jogo?” e a partir disso as palavras de Silvio Almeida a atingem como um trovão calmo: “O racismo é estrutural”. Não por ser uma vontade, mas porque é um mecanismo que funciona por conta própria, sustentado por séculos de exclusão aceita.
Weber também compreenderia.
A autoridade se fundamenta na crença em sua legitimidade, seja por meio da tradição, do direito ou do carisma. Mariana testemunha isso de forma vívida. O domínio se mantém apenas quando parece justo, normal e legítimo. É nesse ponto que o racismo estrutural aparece: não clama aos berros, mas sussurra em manuais, em normas, em códigos de conduta que passam despercebidos. Ele se insinua onde a obediência é baseada em conveniência, não em justiça.
No final da tarde, Mariana deixa o mesmo lugar por onde entrou. Mas algo mudou. Não nela, mas na maneira de observar as coisas como são. Ela se dá conta de que entrou em um edifício, mas saiu de um sistema.
Na calçada, reflete sobre tudo e chega a seguinte conclusão:
“Enquanto o racismo continuar a ser a base silenciosa da legitimidade, nenhuma autoridade será imparcial. E nenhuma inclusão será verdadeira.”
Lana Laura - 1° ano direito noturno
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