O Funcionalismo e o encarceramento em massa no Brasil: A “resistência” como
mecanismo de controle social.
Concessões e negações
A Queda da Bastilha no contexto da Revolução Francesa do
século XVIII representou a quebra de paradigmas associados ao encarceramento
físico e metafórico de uma população. Analogamente, no âmbito hodierno, o
sistema prisional atua como mecanismo de controle social à medida em que marca
o monopólio de uma classe sobre a outra. Ademais, a evolução dos sistemas de
punição ao longo da História da humanidade carrega estigmas no que tange à sua
finalidade. Logo, a restrição da liberdade de forma isolada não auxilia na
maior segurança da sociedade e está pautada em uma dinâmica social dominante.
Em uma análise primordial, é claro que a integridade moral
do meio coletivo está em defasagem ao passo que o aprisionamento no Brasil visa
a reclusão das minorias em detrimento da restituição dos encarcerados à
sociedade. Em viés histórico, essa dinâmica foi replicada na Revolta da Chibata
durante a República Oligárquica por meio do castigo físico extenuante infligido
ao marinheiro negro João Cândido. Infelizmente, esse episódio escancara as
heranças da escravidão na sociedade brasileira ao demonstrar as marcas deixadas
por ela na mecânica das punições que remetem à época, na qual as minorias são as
mais atingidas em virtude de um modelo social consolidado.
Ademais, a lotação das cadeias atua como forma de dominância
social. Conforme elucida o filósofo pós-moderno Michel Foucault, em sua obra “Vigiar
e Punir”, a transmutação das principais formas de punir conforme a evolução da
história consagrou o modelo coletivo no qual aqueles que detém o monopólio do
corpo social exercem seu poder por meio do sistema penitenciário. Sob essa
ótica, fica claro que o papel da restrição da liberdade em uma sociedade
cristalizada denota o caráter tendencioso da justiça brasileira, na qual a
classe social dominante é privilegiada com concessões e abrandamento nas penas,
enquanto os dominados vivem as deficiências do ambiente carcerário perpetuadas
pelo modelo de “resistência” engendrado na sociedade, que legitima a exploração
dos menos favorecidos.
Portanto, o encarceramento em massa no Brasil não tem
tornado a sociedade mais segura, mas sim reforçado a condição estratificada do
coletivo brasileiro. Certamente assim como João Cândido muitos sofrem as
consequências do passado escravocrata nacional que mantém suas impressões no
sistema judiciário. Para mais, o modelo construído por Foucault em “Vigiar e Punir”
demonstra o engessamento social no que tange à manutenção das estruturas de
poder. Sob tal viés, é necessário derrubar a “Bastilha” contemporânea revolucionando
o ideal estamental implantando no cerne do sistema punitivo.
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